Abaixo esta a transcrição do documento mimiografado de 1992. Se quiser ter acesso ao mesmo em PDF clique AQUI
NORMATIZAÇÃO DAS AÇÕES NOS CENTROS
DE CONVIVÊNCIA E COOPERATIVAS MUNICIPAIS
NORMATIZAÇÃO DAS AÇÕES NOS CENTROS
DE CONVIVÊNCIA E COOPERATIVAS MUNICIPAIS
Prefeitura
do Município de São Paulo
Secretaria Municipal de Saúde
Programa de Saúde Mental
1992
Secretaria Municipal de Saúde
Programa de Saúde Mental
1992
Coordenação dos
Grupos de Trabalho: Centros de Convivência e Cooperativa
G.T. Intersecretarial -
Cultura Cidadania e Saúde Mental
Isabel Cristina Lopes
Isabel Cristina Lopes
Composição dos Grupos de Trabalho
Representantes dos Cecco's , Representantes de Secretarias e Órgãos
Municipais
Reflexões
iniciais, Embasamento Teórico. Considerações Técnicas e Redação Final
Isabel Cristina Lopes
Isabel Cristina Lopes
Discussão e
Elaboração das Normatizações Indicativas aos Cecco's
Grupo de Trabalho Centros de Convivência e Cooperativa
Grupo de Trabalho Centros de Convivência e Cooperativa
Digitação
Beatriz helena de
Castro LLoret Pardos
Montagem,
Composição. Diagramação e Produção Visual
LP Engenheiros Consultores Ltda - Tel. 813.7787
LP Engenheiros Consultores Ltda - Tel. 813.7787
Colaboraram
na Produção deste trabalho:
Representantes
dos Cecco's:
. Praça Roosevelt
.
Eduardo Leite - "Bacuri"
. Parque Previdência
. CEE
V. Guarani
. Parque Ibirapuera
. CEE Artur Friendereich
. Cohab I Anchieta
. Parque do Carmo
. São Mateus*
. Parque Ecológico Chico
Mendes
* Em
processo inicial de implantação
|
CDM Ermelino Matarazzo
Parque Santa Amélia CEE Freguesia do Ó Brasilândia
Parque São Domingos Parque
Anhanguera* Interlagos
Parque
Guarapiranga Parque Santo Dias
|
* Em processo
inicial de implantação
Composição do Grupo de Trabalho
Intersecretarial Cultura, Cidadania e Saúde Mental Portaria 112/92 (cujo
relatório referente a Centro de Convivência e Cooperativa foi anexado às
Normatizações)
Representantes de Secretarias e Órgão Municipais
. Secretaria Municipal da Saúde (Coordenação) SMS
. Secretaria Municipal do Abastecimento SEMAB
. Secretaria Municipal da Cultura SMC
. Secretaria Municipal da Educação SME
. Secretaria Municipal de Esportes, Turismo e Lazer SEME
. Secretaria Municipal de Habitação SEHAB
. Secretaria de
Serviços e Obras SSO
. Secretaria Municipal de Transportes SMT
. Companhia de Engenharia e Tráfego CET
. Companhia de Habitação COHAB
. Companhia
Municipal de Transportes Coletivos CMTC
. Corpo
Municipal de Voluntários CMV
. Guarda Civil Metropolitana GCM
Agradecimentos
Especiais a colaboração direta ou indireta no estímulo incentivador a invenção
de Utopias:
Às Personalidades
. Félix Guatarri, Suely Rolnik, Manuel Desviai,
Gregório Kazi, Mario Tommasini, Marilena de Souza Chata, Paulo Freire, José
Américo Peçanha, Sonia Lins, Nacile Daud Jr., Cecília Vasconcelos Guaraná,
Soraia Inella Gazal, Marilze Terezinha de Araújo, Paulo Gianini, Renata Elza
Stark, Boaventura Pereira, Marco Antonio C. Ferreira, Caio Magri, Savério
Lavoratto, João de Deus, Paulo Amarante, Domingos Sávio do Nascimento, Lúcio
Gregori.
Às Instituições:
. Organização Pan-americana de Saúde (OPAS)
. Ministério da Saúde - Coordenação de Saúde
Mental
. Departamento de Terapia Ocupacional da
Faculdade de Medicina da USP
Introdução
Este documento servirá de referência normativa para os Centros de
Convivência e Cooperativa. As normatizações e reflexões aqui contidas
resultaram de um longo processo de discussão, em forma de grupo de trabalho,
que envolveu representantes de todos os Centros de Convivência e Cooperativa, o
Colegiado de Saúde Mental, o CTA da Secretaria Municipal de Saúde e o Grupo de
trabalho Intersecretarial “Cultura
Cidadania e Saúde Mental” portaria 112/92 do Diário Oficial do Município de
31/03/1992).
É importante assinalar que tais contribuições técnicas normativas,
não se dão conta do serviço prestado. Esta se garante pelo investimento em
recursos (materiais, físicos, humanos) pelo preparo técnico dos profissionais
em consonância com a realidade e as
diversas demandas territoriais , e pelo conhecimento e aplicação dos princípios
políticos que regem as ações de saúde mental antimanicomiais.
REFLEXÕES
INICIAIS E EMBASAMENTO TEÓRICO
“Pouco importa que se trate ou não de utopia; temos aí um processo bem real de luta: a vida como objetivo político foi tomada ao pé da letra e voltada contra o sistema que tentava Controlá-la.Foi à vida, muito mais do que o direito, que se tomou o objeto das lutas políticas, ainda que estas últimas se formulem através do direito.O “direito” à vida, ao corpo, à saúde, à felicidade, à satisfação das necessidades, o “direito”, acima de todas as opressões ou “ alienações”, de encontrar o que se é e tudo o que se pode ser, esse “direito” tão incompreensível para o sistema jurídico clássico, foi a réplica política de todos esses novos procedimentos de poder que, por sua vez, também não fazem parte do direito tradicional da soberania. “Michel Foulcault
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade.
15. ed. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque.
Rio de Janeiro: Graal, 1998.
“Os Centros de Convivência e Cooperativa não transformarão o mundo mas o mundo só se transformara com projetos deste tipo”.Paulo Freire
O SENTIDO
DO MANICOMIAL
Na perspectiva de defesa do direito à
vida se inscreve a luta antimanicomial na política Oficial da Secretaria
Municipal de Saúde de São Paulo.
Um compromisso de enfrentamento e
substituição de modelos e contratos de relações marcadas pela violência, a alienação,
o estigma, a marginalização e a segregação, ao qual denominamos Cultura
Manicomial.
A Cultura Manicomial características
das instituições totais e presentes na estrutura de funcionamento, na filosofia
e na qualidade das relações de muitas escolas, fábricas, unidades de saúde,
creches, famílias.... e emblematicamente tendo como representante “mor” o Hospital Psiquiátrico, se
instala negando a expressão da subjetividade, negligenciando a manifestação de
desejos, disciplinando singularidades e normatizando desigualdades. Tecendo
direta ou indiretamente o impeditivo ao exercício de cidadania.
Determinante vital desta cultura
manicomial está o cenário político-ideológico-econômico-social que através das
más condições de vida ( saneamento, moradia, alimentação, transporte,
educação...) e das más condições de trabalho (turnos, pressão de chefia,
exposição a produtos tóxicos...) concorre na produção social do sofrimento
psíquico.
Mas, é justamente no hiato da vida
desta produção violenta de sofrimento que as relações humanas se deterioram e
se reparam dando folego aos indivíduos para questionarem e se reconquistarem
cidadãos.
“Uma Instituição Total, segundo a definição de Goffman, pode ser considerada como o lugar onde um grupo de pessoas é condicionado por outras pessoas, sem ter a menor possibilidade de escolher o seu modo de viver. Fazer parte de uma instituição total significa estar a mercê do controle, do julgamento e dos planos dos outros, sem que o interessado possa intervir para modificar o andamento e o sentido da instituição.No caso da Instituição total da espécie de um hospital psiquiátrico, a função de guarda do pessoal encarregado do tratamento condiciona, em todos os níveis, o grupo de internados, os quais são obrigados a considerar as medidas de proteção contra eles tomadas como único significado de sua existência. A única identificação que este tipo de instituição total oferece aos enfermos é a necessidade das pessoas não se defenderem contra eles. Isso significa que o doente é levado a se identificar com um estereótipo bem definido na estrutura física e psicológica da instituição, o de um internado, “do qual as pessoas sãs se defendem”. Além desse caráter coercitivo de natureza defensiva, a instituição psiquiátrica total apresenta uma aproblematicidade absoluta em um dos pólos de sua realidade (ao mesmo tempo causa e efeito de toda instituição coercitiva). O enfermo logo que internado no hospital, é definido como doente, e todas as suas ações, participações e reações são interpretadas e explicitadas em termos de doença. Logo, a vida institucional se baseia sobre a negação de valores aprioristicamente definida para o internado, que é considerado irreversivelmente objetivado pela doença, o que justifica, no plano pratico institucional, a relação objetivante com ele instaurada.....”Franco Basaglia, A Instituição Negada, 1985
“Uma imensa reconstrução das engrenagens sociais é necessária para fazer face aos destroços do Capitalismo Mundial Integrado. Só que esta reconstrução passa menos por reformas de cúpula, leis, decretos, programas burocráticos do que pela promoção de praticas inovadoras, pela disseminação de experiências alternativas, centradas no respeito a singularidade e no trabalho permanente de produção de subjetividade, que vai adquirindo autonomia e ao mesmo tempo se articulando ao resto da sociedade. Dar lugar para as brutais desterritorialização da psique e do socius, em que consistem os fantasmas de violência, pode conduzir não a uma sublimação miraculosa, mas a reconversões de agenciamentos que transbordam por todos os lados o corpo, o Ego, o Individuo.”
Félix Guatarri, As três Ecologias, 1990.
“Existem fenômenos que são considerados normais ou anormais segundo a profissão, a cultura, a renda, as possibilidades terapêuticas: e a sociedade transforma essas avaliações em motivo de exclusão ou de reprovação. Porém, fazer coincidir anormalidade e patologia é freqüentemente uma arbitrariedade” (....)
“A avaliação mistura, portanto critérios objetivos com o comportamento, com as reações, com as ações desenvolvidas pela diversidade ou pelo desvio. Isto é típico de qualquer espécie vivente e de toda historia humana, mas nas sociedades desenvolvidas sãos sempre maiores as reações e as interações institucionais, que se ligam a economia, ao Estado, à cultura, ao poder. Mas a característica social das pessoas é ser pobre marginal é a probabilidade de que estas pessoas sejam definidas como anormais”.Giovanni, Berlinger, A Doença, 1998
Caso há interesse segue link para Download do livro A Doença:
http://www.cebes.org.br/internaEditoria.asp?idConteudo=1421&idSubCategoria=22
http://www.cebes.org.br/internaEditoria.asp?idConteudo=1421&idSubCategoria=22
NOVOS
SIGNOS MANICOMIAIS
Comprometidos com a construção desta cidadania a SMS vêm desenvolvido um exaustivo trabalho que pretende alterar radicalmente o modelo hegemônico de atenção aos que sofrem mentalmente. Este modelo hegemônico marcado pelo enclausuramento, o eletrochoque, enquanto terapêutica de punição, a super-sedação, as longas internações, a continência pela ação de camisas de força e celas fortes.
Apesar da natureza de tais praticas
ser essencialmente politico-ideológica por pretender “preservar” a sociedade de
seus “ditos loucos” que denunciam através da loucura-sofrimento, parte dos
conflitos e contradições desta mesma sociedade, ainda nos deparamos com quem as
justifiquem fundamentando-as através do discurso científico.
Entretanto se concebermos o sentido do
manicomial para além dos hospitais psiquiátricos, a construção de uma nova rede
de serviços, conceitos e relações de atenção em saúde mental antimanicomial,
deverá cuidar para não protagonizar outros signos manicomiais como:
- ·
A camisa de forças burocráticas;
- ·
A “desumanização” no acesso aos serviços;
- ·
A normatização a serviço do “empurra-demanda”;
- ·
A “vaidade” na ação individualizada à
transdisciplinariedade;
- ·
A negação da espiral de co-responsabilidade
(guetos protegidos)à espaços gerais de saúde (convivência heterogênea
contra-estigmatizante);
- ·
O desejo do profissional à necessidade da
comunidade;
- ·
O perfil do que bate a porta ao perfil
epidemiológico e social da realidade territorial-local;
- ·
A negação da determinação social do sofrimento
mental;
- ·
O modelo médico ao modelo de saúde pública;
- ·
A negação da subjetividade e do sofrimento
psicossomático;
- ·
A objetivação pela doença (paciente) à compreensão
do outro enquamto poder de troca(usuário).
- · A insensibilidade na escuta e decodificação do pedido-desejo-necessidade “barrados” no balcão-porta.
- ·
A negação do fenômeno saúde-doença enquanto
processo.
- ·
A ação guiada pelo quadro nosológico à expressão-
intensidade na manifestação do sofrimento;
- ·
O não investimento e o não reconhecimento do
vinculo enquanto função de vida.
- ·
O “enclausuramento” no equipamento de
profissionais sem asas e tentáculos para expiarem pelas frestas das “portas
abetas”: a rua, a comunidade, os enclausurados em seus domicílios.
- ·
A cronificação em leituras apriorísticas à
disponibilidade em se reciclar com os livros, os movimentos populares, o
transdisciplinar, o usuário;
- ·
A desautorização em criar-recriar novas senhas
e abordagens....
A REDE DE
ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA CIDADE DE SÃO PAULO.
A ‘“aventura” consequente de rastrear o território e reconhece-lo a partir de seu próprio referencial, em consonância com a realidade da produção científica a serviço do homem, e o cuidado vigilante frente aos novos signos manicomiais, irão representar o contorno da nova rede de atenção à saúde mental na cidade de São Paulo.
Sob a influência da Reforma sanitária,
das conferencias nacionais de saúde e de saúde mental, as iniciativas do
legislativo durante e após a constituinte a nível federal e estadual, as
experiências de trabalhadores em saúde mental na rede pública, as pesquisas e
produções acadêmicas a nível nacional e internacional, a criatividade de muitos
profissionais aliados a população organizada na “reinvenção do novo”, sob o
referendo das organizações: Pan-americana de Saúde, Mundial de Saúde e Nações
Unidas em torno da questão da Saúde Mental, vai se configurando o novo modelo
de Atenção à Saúde mental da cidade de São Paulo, subsídio concreto para a
efetivação da Reforma psiquiátrica, ou melhor dizendo, da Reforma em Saúde
Mental Brasileira.
Assim a Reforma em Saúde Mental deverá
florescer dos movimentos de massa buscando refletir as mesmas considerações
colocadas na Reforma sanitária como sugere o texto:
“A Reforma Sanitária não poderá ser pensada como meras modificações técnico-administrativas e organizacionais. Mas, sim, precisa dar posição central a temas como a democratização do Estado e da formulação de um projeto contra-hegemônico (no que a questão da consciência sanitária e da ampliação do conceito de “direito à saúde” colocam-se como pontos vitais).”Jaime A. Oliveira e outros, Demandas Populares,Políticas Publicas e Saúde, 1989
Neste caminho conjunto das reformulações em saúde publica os avanços na constituição federal e as indicações das conferências nacionais de saúde apontam para a formulação de um Sistema Único de Saúde sob o gerenciamento do município concebido sob pressupostos imprescindíveis a Reforma em Saúde Mental, como a equidade, a Universalidade, a Regionalização, a Integralidade das ações. Os parâmetros deverão ser epidemiológicos e sociais, não mais tutelados pelo modelo médico e com parceria da população organizada na construção do novo sistema.
“Entretanto, enquanto ampliação do conceito de direito à saúde mental nos deparamos com a necessidade de reformulação profunda de toda legislação civil e penal em vigor, que sustenta a discriminação e a exclusão do doente mental, fundamentada nas noções de incapacidade civil absoluta e na periculosidade como inerente a própria natureza da doença mental (...). Associada à inexistência de cidadania do doente mental e a consequente ação tuteladora do Estado, vê-se o desenvolvimento de uma política privatizante que permite a disseminação de um dos maiores parques asilares do mundo, entre hospitais psiquiátricos particulares e instituições publicas existentes, consolidando um modelo assistencial asilar completamente falido, excludente, discriminatório, perverso e corrupto.”Francisco Drumond Marcondes de Moura Neto eOutros, Saúde Mental e Cidadania, 1987
Considerando os pressupostos do
Sistema Único de Saúde no cenário real da politica de Saúde Mental e os
entraves legislativos, se inicia ao mesmo tempo um resgate histórico politico e
uma reformulação na abordagem assistencial do sofrimento mental. A saber:
- ·
O investimento na Unidade de Saúde Mental em
Hospitais Geral Público, a inclusão dos excluídos, ou seja, fundamentalmente a
“inclusão” da subjetividade e do porta-voz mais caricato da discriminação o
“dito” louco/doente mental, através da dinâmica metodológica-institucional do Hospital-aberto (a inserção da
subjetividade, a participação do acompanhante, o valor terapêutico da
multidisciplinariedade...);
- ·
A Enfermaria e a Emergência de Saúde Mental em
hospital Geral, investimento na garantia de internação sem asilamento,
violência, perda de direitos, o respeito ao sujeito, a família e a manifestação
do sofrimento:
- ·
O
investimento nas equipes de Referencia em Saúde Mental em Unidades Básicas de Saúde
para ações ambulatoriais em conjunto com as ações gerais de saúde recuperando a
integralidade, universalidade e fundamentalmente a equidade dos serviços e da
abordagem verdadeiramente holística frente ao fenômeno: sofrimento humano;
Abrindo as portas para a “loucura” num espaço mais geral e diversificado de saúde;
- ·
A Criação de Unidades de Convivência
Terapêutica Intensiva (os Hospitais dia em saúde Mental), espaço de suporte às
necessidades de intervenções intensivas e contínuas em liberdade e em
co-responsabilidade com a família e a comunidade;
- ·
A perspectiva de investimento em
Lares-Abrigados para fora dos muros dos Hospícios, resposta aos sobreviventes
do sistema manicomial, desprovidos de laços familiares e com chances de
reestruturação de vida;
- ·
E finalmente a invenção de espaços de
convivência e núcleos de trabalho cooperado que reinventem consígnias e
contratos não mais sob a égide da doença e da “tutela”, os Centros de
Convivência e Cooperativa.
Utopia??
“
Pouco importa que se trate ou não de utopia, temos aí um processo bem real de luta
(....). (Michel Foucault). De luta pela vida, pela cidadania, pela contra
hegemonia com responsabilidade terapêutica e sustentação técnica.
“Por todos os lados impõem-se espécies de invólucros neurolépticos para evitar precisamente qualquer singularidade intrusiva. É preciso mais uma vez, invocar a história! No mínimo pelo fato de que corremos o risco de não mais haver historia humana se a humanidade não reassumir a si mesma radicalmente. Por todos os meios possíveis, trata-se de conjurar o crescimento entrópico da subjetividade dominante. Ao invés de ficar perpetuamente ao sabor da falaciosa de “challenges” econômicos, trata-se de se reapropriar de Universos de valor no seio dos quais processos de singularização poderão reencontrar consistência. Novas práticas de si na relação com o outro, com o estrangeiro, como o estranho: todo um programa que parecerá bem distante das urgências do momento! E, no entanto, e exatamente na articulação da subjetividade em estado nascente, do socius em estado mutante, do meio ambiente no ponto em que pode ser reinventado, que estará em jogo a saída das crises maiores da nossa época(...).
(...) A subjetividade através das chaves transversais, se instaura ao mesmo tempo no mundo do meio ambiente, dos grandes agenciamentos sociais e institucionais e, simetricamente, no seio das paisagens e dos fantasmas que habitem as mais intimas esferas do individuo. A Reconquista de um grau de autonomia criativa, num campo particular invoca outras reconquistas em outros campos. Assim, toda uma catalise da retomada de confiança da humanidade em si mesma está para ser forjada passo a passo e, às vezes, a banir dos meios, os mais minúsculos.”Félix Guatarri
Parafraseando Guatarri: Meios minúsculos tal como se pretende, utópica ou não, esta contínua e coletiva invenção-(re)-invenção de protagonizar a vida, que denominados Centro de Convivência e Cooperativa.
Histórico –
Concepção – Nascimento
Em tempos de mudança velhas
terminologias, anunciadoras de novas posturas, se apressam em participar de
nosso vocabulário apontando na direção de reinvenções, reorganizações,
reformas, a partir de desconstruções e criações sustentadas por estudos,
pesquisas, experiências de valor reconhecido que vêm embasar tais
terminologias, mas fundamentalmente corroborando a capacidade de empatia,
vinculo e feeling de muitos
“profissionais vocacionados”, diante da manifestação de vida, seja ela humana
ou não.
Coerente com este contexto encontramos
alguns pontos programáticos das diretrizes de Saúde Mental do Programa de
Governo da prefeita Luiza Erundina que vêm referendando historicamente a
abordagem de novas abordagens:
“Priorizar o espaço de discussão junto á população nos bairros e às organizações populares e sindicais, visando desmitificar a loucura e o transtorno mental na reflexão de seus determinantes sociais;As praticas em Saúde Mental deverão favorecer a humanização das relações homem-homem, homem-natureza e homem-sociedade; impedindo que a medicalização e a técnica oprimida mortifique o individuo;Reconhecer e valorizar os saberes e praticas culturais populares, como formas de equilíbrio social, relativizando o saber médico-psicológico;Favorecer através de suporte técnico e financeiro, a criação de espaços culturais, educativos e da integração social auto-geridas pela população que atenda as necessidades dos diversos grupos que se caracterizam por diferentes graus de deficiência física ou mental”.Pontos do Programa de Governo Democrático ePopular para a Cidade de São Paulo-Área de Saúde Mental - 1988
Necessários se fizeram a invenção de
abordagens e o pacto com um conceber de homem em movimento em relação a
dinâmica com o próprio homem, com a natureza e com a sociedade. Relação
“espiralada e operativa” como nos inspira a teoria de Pichon Riviere, afim de
promoverem o surgimento de um novo espaço, um novo setting de apreensão e resposta holística ao sofrimento humano: os
centros de convivência e cooperativas.
A escolha preferencial pelos espaços públicos por excelência, ou seja aqueles onde o acesso teoricamente é livre e aberto à necessidades menos estruturadas e portanto menos impeditivo à entrada, como os Parques Municipais, as Praças, os Centros Esportivos e Desportivos, os Centros Comunitários da Cohab,....Públicos também enquanto conceito de apropriação da população “o não privativo”.
Sendo parte da perspectiva de ação dos Ceccos a alteração de perfil do usuário destes espaços públicos, tornando-o mais fiel a características da heterogeneidade do publico-população, e mais, tendo por perspectiva resgatar a vocação original destes espaços e explorá-la, de forma a potencializar o seu uso diário e introduzindo uma vocação aliada e não concorrente: a terapêutica.
Assim a apropriação da coisa publica
favorece um dado reconhecimento, a consciência das similaridades, das
diversidades, a dialética da relação do homem com este micro-meio questionando
e fazendo analogias, estimulando a analise e síntese.
(p.e)- “ O fino riacho que corta delicadamente a pequena reserva de Mata Atlântica num parque municipal tombado. Reserva esta preservada e vigiada para evitar meninos predadores que se aventuram entre as arvores centenárias e descuidadamente pisam no riacho e levam consigo dejetos fecais que ali “preservados” têm passagem livre. No entanto, não são desconhecidos destes pequenos pés, que conhecem intimamente seu percurso, que não tão delicadamente cortam o quintal, quando não o próprio chão do barraco, onde a noite, estes mesmos meninos, descansam o corpo exausto de driblar as normas e as leis do proibido...!”
Este movimento chamaremos de processo
de convivência onde o individuo se reconhece e se estranha, onde troca de lugar
e conquista novos ou velhos lugares... um processo com a natureza não só
humana, instrumentalizando o exercício de conviver, favorecendo um “se
flagrar”, ampliando repertórios, compreensões e potencialidades individual ou
coletivamente.
Este conviver crítico vai desnudando conceitos como o da homogeneidade e da desigualdade, e do da diferença e o da igualdade. Pois bem o que se objetiva é esta identidade de convivência questionadora e coerente com a amostra da realidade da espécie humana, não natural, mas real, de diferença de acesso a bens e serviços, de desenvolvimento, de acesso à saúde e de consequentemente, forma de adoecer e morrer.
Pensar em diferenças pressupõe pensar em origem destas, para além do circunscrito no individuo, em seus objetos internos, na relação familiar, mas pensar cuidadosamente na determinação social destas diferenças e na contrapartida reativa desta mesma matriz-social, impulsionando a culpabilização e a expiação, metamorfoseando diferenças em desigualdades sociais e subjetivas.
“as diferenças e as assimetrias sociais e pessoais são imediatamente transformadas em desigualdades e, essas, em relação de hierarquia, mando e obediência(...) Os indivíduos se distribuem imediatamente em superiores e inferiores, ainda que alguém superior numa relação possa tornar-se inferior em outra, dependendo dos códigos de hierarquização que regem as relações sociais e pessoais. Todas as relações tomam a forma de dependência da tutela, da concessão, da autoridade e do favor, fazendo da violência simbólica a regra da vida social e cultural. Violência tanto maior porque o invisível sob o paternalismo e o clientelismo, considerados naturais e, por vezes, exaltados como qualidades positivas do caráter nacional”
Marilena Chaui, Conformismo e Resistência:Aspectos da cultura Popular no Brasil, 1989.
“... As TrêsEcologias deveriam ser concebidas como sendo da alçada de uma disciplina comum ético-estética e, ao mesmo tempo, como distantes uma das outras do ponto de vista das praticas que as caracterizam. Seus registros são da alçada do que chamei heterogênese, isto é, processo contínuo de re-singularização. Os indivíduos devem se tornar a um só tempo solidários e cada vez mais diferentes”.
Assim Caberá ao Cecco possibilitar o encontro dos diferentes, das assimetrias sejam elas expressos na relação com a natureza, com o fenômeno do sofrimento humano, mental ou não, expressas na chance de vida de determinados grupos sociais, no resultado da relação dominador-dominado, que concorrem para delinear-sombrear uma “ecologia da subjetividade”. Onde o se perceber diferente poderá remeter a noção do estrangeiro, potencial interno desconhecido/potencial do outro reconhecido, tecendo novas relações que preservem a vida e recriem papeis e direitos, num contínuo crítico questionamento do desejo, da cidadania.
Este exercício de convivência dos tidos diferentes, estruturado sob o eixo da solidariedade e da não segregação dará contorno a uma abordagem em Saúde Mental de ruptura com a cultura manicomial para a efetivação de contratos sociais anti-discriminatórios e anti-paternalistas, para nesta fratura conquistar relações democráticas e “desalienantes”.
Giovanni Berlinguer reflete:
“A presença de um doente em casa pode agregar ou desagregar a unidade familiar, fortalecer ou destruir uma pequena comunidade. A presença de uma criança deficiente na escola pode torná-la alvo do embaraço de todos, pode fornecer um álibi para as disfunções educativas de cada dia, pode criar efetivos embaraços se há falta de uma pedagogia e de uma assistência especializada; mas pode também, fortalecer o grupo, aumentar a capacidade de reconhecer e aceitar “os diferentes”, ser um estímulo educativo no plano cientifico e moral(....)(...) O movimento coletivo pela saúde pode ser um dos estímulos mais fortes às modificações daqueles fatores que não são somente morbígenos, mas também alienantes, ou de alguma forma criaram obstáculos ao desenvolvimento da comunidade (...) afastar os efeitos, segregar os doentes ou até rotulá-los como perigosos para a coletividade impede de dar atenção aquele que é um dos aspectos mais interessantes da doença: o sinal, o fato de que o sofrimento individual é frequentemente a manifestação do coletivo”.
As misturas das pessoas e de suas
diferentes chances de vida nos Cecco’s deverá se fazer com orientação e
supervisão técnica, visto que o objetivo não é meramente se juntarem em suas
mazelas comuns ou parecidas, pressupostos da formação de guetos. Antes e
fundamentalmente, a heterogeneidade dos grupos deverá objetivar a aglutinação
pela tarefa, e será quem trará a inscrição da identidade grupal.
A diferença enquanto desigualdade, expressa no quadro nosológico e na ação descontextualizada e medicalizante, marca da discriminação e dos resquícios da cultura eugenista, que pressupõe segregação e extermínio através fundamentalmente da realização de experiências humanas nos porões institucionais, não deverá banisar a formação de grupos o que destinaria a uma identidade estigmatizante e reprodutora de modelos disciplinadores de repressão e segregação.
A tarefa por sua vez também inovará com a consignia da produção conjunta, da capacidade criativa, do prazer e da ousadia em fazer o novo, em arriscar contratos de barganha afetiva, inicialmente, entre os indivíduos e suas histórias muito diferentes, para barganhas sociais mais amplas, sob a escuta e a colaboração da pontuação técnica, visando à costura necessária para o outro lançar-se, dando substrato a uma ação verdadeiramente terapêutica e não aventureira. Onde o setting e contrato também se conjuguem diferenciados no processo.
A linguagem, enquanto facilitadora de expressão artística, musical, teatral, gestual, esportiva, literária, artesanal, corporal... deverá proporcionar um recriar de conceitos estéticos, e terapeuticamente concorrer com uma visão diferenciada de si e do outro, de perspectivas e potencialidades, de visão de mundo e projetos de vida. Propondo uma relação também modificada com a “doença” num reintroduzir na sociedade de seus excluídos.
Possibilitando emergir o conceito vivo do “diferente” ao desviante e ao anormal, reinscrevendo a “subjetividade da ressingularização” e o conceito de “limitação” em suas exigências de diferenciação, em nome de uma sobrevivência da humanidade, repudiando a morte lenta do “estigma profetizante”: desigualdade-tutelada.
Assim todos (noção de heterogeneidade) poderão se consorciar em atividades expressivas destas (re)inscrições, o “a priori” na maior parte das vezes deverá ser “o desejo” individual e/ou coletivo associado a ousadia em manifestá-lo.
“Eu viúva, dona de casa, velha, nervosa e enferrujada! Olhava para aquela oficina de teatro no Centro de Convivência, uma mistura, uma confusão” (...) até que arrisquei e me descobri nova, louca, solta, até entrevista pra jornal eu dei, representei em praça pública e de forma inesquecível dançamos no palco do Teatro Municipal...(....) minha idade hoje??- Eu Alice! Do Movimento”Fragmentos e Interpretação do discurso deUma usuária de Cecco.
"- é necessário organizar a sociedade de modo a integrar as “anormalidades” criando obstáculos à tendência a defini-las sempre como doenças, com as consequentes discriminações e prejuízos, como aconteceu com frequência com as internações nos hospícios.
A tendência à integração é tanto mais praticável quanto menos a sociedade é competitiva. Quando se tornar norma de vida a concorrência desumana por qualquer meio, e tendência será inevitavelmente aceitar no trabalho, na escola, na coletividade somente os indivíduos dotados de qualidades particulares chegar-se-á a alargar o circulo das pessoas consideradas deslocadas ou anormais, e a encaminhá-las, porém ao beco sem saída da internação forçada e do abandono(....)(...) é valido considerar as doenças como diferenças, não como desvios. Já que nem todas as anormalidades são doenças, seria errôneo afirmar o contrário: que doenças sejam desprovidas de objetividade e de substrato biológico ou psíquico. Por outro lado, é necessário reconhecer as variações do equilíbrio que podem tornar-se nocivos, utilizando e somando os conhecimentos científicos, e reduzir paralelamente, que sejam as causas de tais anormalidades, quer seja a amplitude do conceito de desvio quando a medida cultural e social se sobrepõe à clinica.”Giovanni Berlinger
Nos lancemos, portanto, a um
entendimento de Linguagem enquanto
“falas inteligentes” de outras tantas formas de “falas expressivas”, mesmo que
estas expressões se assemelhe aos Caos,
ao destoante da norma vigente de beleza, de adequação, de verdade, de
produtividade...
Caos “esse lugar metafórico queorganiza a desorganização”.
Blanchot
“Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si,para poder dar à luz uma estrela dançante”Nietzsche
Linguagens se fazendo ouvir em
oficinas de artes ou outra consígnia qualquer que oriente a construção de uma
dada “obra” sem pré-requisitos técnicos ou balizadores estéticos, mas antes
tutelados pelo desejo de cada um e de um dado coletivo. A partir de um
estimulo-tarefa com o objetivo de aproximação do outro e gradativa convivência
e aceitação do estranho-diferente, ir construindo mais do que um novo conceito
ético-estético, provavelmente um novo patamar de trocas originais e de
questionamentos acerca da ordem estabelecida.
“Como diz Maurice Blanchot , a loucura tem a mesma função que a obra, pois permite à sociedade, como a obra permite a literatura manter – inofensiva, inocente, indiferente- a ausência de obra entre os firmes limites de um espaço fechado”. A ausência de obra fechada no asilo, esta emparedada também na obra. E tal como a desrazão usa a loucura para expressar-se, a ausência de obra usa a obra, até às vezes a sua possibilidade extrema(isto é, arruinando-a), para manifestar-se(...)É o fora que, confinado à obra, a utiliza para vir “a luz”, e ao faze-lo a arruína, sem nunca conseguir destruí-la. É assim que a obra existe como um movimento que de algum modo a anula sempre, levando-a de volta à ausência de obra, mas nunca definitivamente(....)
Refletindo Postulados de Foucault, o autor sugere:
"Desrazão e ausência de obra só podem expressar-se na forma que os aprisiona: como obra louca. Os poetas loucos não realizam a síntese entre um gênero literário e outro psiquiátrico, mas expressam a desrazão com as máscaras que esse século e outros talvez lhes reservam: a arte e a loucura (...) A desrazão confinada na loucura ou na obra exigiria, quem sabe não psiquiatras, nem críticos de arte, mas (...) pensadores do Fora. O pensamento do Fora pode ocupar-se do Fora embutido na loucura e na arte, na filosofia ou na política. Pouco importam, aqui, os territórios. O essencial é que se trate de um pensamento que pratique, como diz Blanchot em outro contexto, o aléa entre raison et déraison. Talvez o pensamento do Fora permita um contato com a desrazão que não desemboque na loucura (...)(...) Ao longo de uma história da loucura sempre estarão em questão as diferentes modalidades de relação com o Fora (confinamento, exposição, a troca) segundo diagramas de poder, os estratos de saber e os modos de subjetivação sucessivos. Loucura e Pensamento do fora entendidos enquanto "experiências" tanto artísticas, cotidianas, místicas como propriamente pensantes. em que uma certa turbulência é expressão de um tipo de relação com o Fora ou a Desrazão. São duas formas de se relacionar com o Fora(...), enquanto à Loucura transforma o Fora em-Dentro numa adesão surda, o pensamento do Fora é capaz sie estabelecer com ele um jogo e uma troca".Peter Pál Pelbart, Da Clausura do Fora ao Fora da Clausura, 1989
Para ter acesso ao livro Da Clausura de fora ao fora da clausura clique AQUI
Será a própria experiência destes
novos códigos de convivência, onde cada dificuldade, cada limitação possa ser
compreendida num universo mais complexo do que a "culpa" individual
ou a predestinação ao fracasso, ao sofrimento e a não autonomia. A compreensão
de que a "solidariedade consorciada", ou seja, a complementariedade
das potencialidades e vocações de uns, associadas as de outros formam cadeias,
correntes, com elos fortes que patrocinam transformações na concepção de homem,
de mundo e de se estar no mundo, no olhar de cada indivíduo.
Códigos de convivência onde se
exercita um poder de barganha afetiva, e sendo o afeto não catalogado
cientificamente como louco, deficiente, marginal ou são; logo este código
contribuirá na construção de um outro poder: de barganha contratual. Onde se
exercita a associação indiscriminada anti-guetos, que busca desenvolver a
façanha da "louca criação marginal" reinventando o belo, a obra
individual ou coletiva tendo a cidadania como tutora.
Inevitavelmente este exercício nos
levará a outros campos e cenários mais áridos e impulsionará a realizações e
inserções em outras esferas do mundo humano, para além dá esfera da
convivência, da solta associação dos afetos. A esfera do mundo do trabalho,
onde residem as balanças de precisão que equacionam virilidade, produtividade e
felicidade, maquiando a exploração do homem, de sua força de trabalho,
impedindo sua criatividade e crítica, alienando vocações, ... a experiência de
convivência certamente questionará.
O trabalho enquanto espaço de produção
de riqueza e de "loucura-sofrimento" precisa ser resgatado em sua
essência oposta, ou seja, nas chances de se produzir e de se agrupar indivíduos
diferentes em suas potencialidades e habilidades, sob um contrato de
investimento e disponibilidade cooperativa e não competitiva, segundo as
possibilidades máximas de cada um, e portanto, pressupondo uma divisão
igualitária do ganho-lucro" para produtos-produções finais diferentes,
frutos de processos acordados sobre bases iguais.
Assim a cooperação enquanto característica
dos núcleos de trabalho a se desenvolverem nos Cecco's poderão propiciar
(re)significado a segmentos marginalizados que empunharão a própria defesa da
liberdade e da dignidade de suas vidas, (re)conquistando uma senha, de singular
importância no nosso meio, nestes tempos: a de Ser sujeito de produção
(produtivo) e portanto com efetivo poder contratual.
Entretanto, a curto e médio prazo, serão outros os eixos
sustentadores de tal empreitada trabalhista: o incentivo a formação de grupos
consorciados a se desenvolverem fora do Cecco mas com a colaboração e
assessoria facultativa deste:
- Estímulo ao desenvolvimento de economia popular autônoma, gerida pelo próprio grupo;
- A discussão permanente do significado do trabalho, do lucro, da mais valia, da alienação, do risco, da relação determinística das más condições de trabalho e sofrimento mental, etc.;
- A valorização de iniciativas espontâneas e a disponibilidade de profissionais em colaborar no sucesso das tentativas.
"As doenças e as deficiências existem, seja no campo físico, seja no campo mental. Mas é arriscado catalogar a saúde como ideal e o patológico como desvio, porque os dois fenômenos são parte de um processo único; e porque a doença, que se constitui sobre bases biológicas ou psíquicas, é revestida de um juízo social pelas consequências que provoca na vida cotidiana. Daí derivam os comportamentos que podem agravar ao invés de atenuar os fenômenos patológicos em ação. Entre-as Personagens de Luigi Pirandello (1867-1936) existem, p.e., muitíssimas extravagantes e numerosas loucas. Mas Pirandello nunca as coloca no manicômio. Num de seus romances, Um, Nenhum, Cem Mil, mostra que, ao contrário, em certas condições, pode acontecer a qualquer um de ser "considerado louco". Temos constantemente diante de nós situações alienantes, trabalhos incompatíveis com a vida muito mais que vidas incompatíveis com o trabalho, sociedade para ser transformada muito mais do que homens a serem rejeitados (...)(...) O deficiente é considerado um indivíduo que não pode trabalhar ou que pelo menos em uma capacidade de trabalho inferior à normal. Isso é absolutamente errado, porque na maior parte dos casos se aquele que tem alguma desvantagem é colocado numa função adequada pode produzir como todos. Admitamos que um indivíduo seja completamente paralítico dos membros inferiores, enquanto que para o resto seja completamente normal, e que a ele seja reconhecido um grau de 80% de diminuição da capacidade de trabalho. Vejamos onde está o absurdo de que falei: este indivíduo colocado para fazer um trabalho que requer o uso quase perfeito das pernas, ou que também requeira esforço físico, será naquele posto uma redução da capacidade de trabalho de 100%, se, ao invés disso, for colocado para fazer um trabalho que requeira o uso das mãos, ou da mente, ou da voz, o mesmo indivíduo produzirá no seu grau máximo (...)(...) as tribos Kubu, da Ilha de Sumatra, das quais fala Sigerist, aceitam e integram no seu grupo, normalmente, os casos de doenças (pequenas doenças, feridas ligeiras) que não atrapalham a vida comunitária. Por outro lado, quando a doença impede o indivíduo de fazer parte da vida coletiva, eles rejeitam, com meios bastante enérgicos, aqueles que são afetados, os afastam e os condenam a um fim prematuro. Sigerist escreve que o "doente está morto socialmente, muito antes que esteja morto fisicamente". É necessário reconhecer que hoje, na sociedade industrial altamente competitiva e desumana, ocorre algo de semelhante quando não intervém a assistência pública ou a solidariedade das pessoas. Isto é, ocorre um retorno às leis tribais, com o agravante de que estas talvez fossem necessárias para a sobrevivência da tribo. Hoje não!'"
"Seja na vida individual ou na vida coletiva, o impacto de uma ecologia mental não pressupõe uma importação de conceitos e de práticas a partir de um domínio "psi" especializado. Fazer face à lógica da ambivalência desejante, onde quer que ela se perfile - na cultura, na vida cotidiana, no trabalho, no esporte, etc. -, reapreciara a finalidade do trabalho e das atividades humanas em função de critérios diferentes daqueles do rendimento e do lucro: tais imperativos da ecologia mental convocam uma mobilização apropriada do conjunto dos indivíduos e dos segmentos sociais!!Félix Guatarri
"Mesmo que a realidade tratada nas descompensações psicóticas e neuróticas não tenha nenhum poder patogênico, a não ser pelo conteúdo que veicula, admitamos que a realidade, mesmo sem nenhuma ocorrência específica, pode favorecer o surgimento de uma descompensação. Deve-se levar em consideração três componentes da relação homem-organização do trabalho: a fadiga, que faz com que o aparelho mental perca sua versatilidade; o sistema frustração-agressividade reativa, que deixa sem saída uma pane importante da energia pulsional; a organização do trabalho, como correia de transmissão de uma vontade externa, que se opõe aos investimentos das pulsões e às sublimações. O defeito crônico de uma vida mental sem saída mantido pela organização do trabalho, tem provavelmente um efeito que favorece as descompensações psicossomáticas (...)(...) a organização do trabalho e, em particular, sua caricatura no sistema taylorista e na produção de peças é capaz de neutralizar completamente a vida mental durante o trabalho ("Fantasmas" no sentido psicanalítico). Nesse sentido, o trabalhador encontra-se: de certo modo, lesado em suas potencialidades neuróticas e obrigado a funcionar como uma estrutura caracterial ou comportamental. Efetiva-se assim, artificialmente, pelo choque com a organização do trabalho, o primeiro passo para uma desorganização psicossomática experimental. (...)(...) Deste modo, a livre organização do trabalho torna-se uma peça essencial do equilíbrio psicossomático e da satisfação."Christophe Dejours, A Loucura do Trabalho, 1987
“O trabalho é essa atividade tão específica do homem que funciona como fonte de construção, realização, satisfação, riqueza, bens materiais e serviços úteis à sociedade humana. Entretanto, o trabalho também pode significar escravidão, exploração, sofrimento, doença e morte. A escravidão, oficialmente abolida na maioria dos países do mundo atual, deixava bem clara a delimitação entre os homens que eram donos do poder e dos meios de produção e aqueles outros homens, utilizados como ferramentas vivas na produção e no servir. O corpo e a mente do escravo eram propriedade do senhor, existiam para obedecer e para produzir. A obediência e a ausência de liberdade do escravo constituíam, justamente, a garantia da realização do máximo de trabalho possível por cada escravo. Foucault mostra como este princípio da garantia da obediência, ainda em nossos dias, continua sendo mantido, através de sistemas de controle bem mais sofisticados do que a escravidão.Assim, nas sociedades modernas, ditas evoluídas e humanistas, foi criada toda uma estrutura que, explicitada como sendo de serviços destinados a proteger os direitos e a saúde dos trabalhadores, surge em verdade também para ocultar o processo de extração das energias humanas e seus efeitos, podendo, é verdade, até suavizar este processo, contanto que a produtividade não seja atingida.”Edith Seligmann Silva e outros, Cidadania e Loucura ‑Políticas de Saúde Mental no Brasil - 1987
Aos profissionais, fruto de uma dada concepção
de saúde - doença, construída sob o prima da história natural da doença, sob a
proteção do modelo médico, cabe um repensar de conceito ético, particularmente,
patrocinado pelo enfoque processual do fenômeno saúde-doença questionador de
parâmetros rígidos que insistem em desconsiderar os nexos causais associados a
determinação social deste sofrimento humano e negam uma compreensão dinâmica de
proposições como: adoecimento, cura, resolutividade, eficácia, eficiência,
modelo, ciência, vínculo, sigilo, poder, responsabilidade, participação,
subjetividade, multidisciplinariedade,...
Felix Guatari reflete:
"A condição prévia a todo novo impulso da análise (...) consiste em admitir que, em geral. e por pouco que nos apliquemos a trabalha-los. Os Agenciamentos subjetivos individuais e coletivos são potencialmente capazes de se desenvolver e proliferar longe de seus equilíbrios ordinários. Suas cartografias analíticas transbordam, pois, por essência, os territórios existenciais aos quais são ligadas. Com tais cartografias, deveria suceder como na pintura ou na literatura, domínios no seio dos quais cada desempenho concreto tem a vocação de evoluir, inaugurar aberturas prospectivas, sem que seus autores possam se fazer valer de fundamentos teóricos assegurados pela autoridade de um grupo, de uma escola, de um conservatório ou de uma academia...Fim dos catecismos psicanalíticos; comportamentalistas ou sistemistas. O povo "psi", para convergir nessa perspectiva com o mundo da arte, se vê intimado a se desfazer de seus aventais brancos, a começar por aqueles invisíveis que carrega na cabeça, em sua linguagem e em suas maneiras de ser (um pintor não tem por ideal repetir indefinidamente a mesma obra...). Da mesma maneira, cada instituição de atendimento médico, de assistência, de educação, cada tratamento individual deveria ter como preocupação permanente fazer evoluir sua prática tanto quanto suas bases teóricas".
Para
Giovanni Berlinguer:
"Além da pressão das indústrias e dos especialistas para o uso de instrumentos e de fármacos em excesso em relação às exigências do tratamento, além do abuso de internações hospitalares, existe também a necessidade de ser superada pela população a ideia de que sejam preferíveis os tratamentos que parecem levar consigo uma expiação de culpa; dessa forma, os medicamentos amargos são mais eficazes, as injeções são melhores que as pílulas, a confissão dos pecados é necessária para a cura. Por outro lado, foi observado pelo estudioso francês Michel Foucault, que a medicina moderna, prescrevendo ao doente de modo rigoroso e autoritário o que ele deve fazer para curar-se, rompe a sua relação com o mal. Isto é. obriga-o a romper com uma parte de si, que ele, ao contrário, deve fazer emergir do inconsciente para decidir-se voluntariamente a combater"
Peter Pál Pelbart nos
coloca:
"Em
dado período da história da psiquiatria vimos que o alienismo teve que vestir a
roupagem médica para legitimar-se enquanto ciência. A colcha de retalhos que
costurou para si não foi capaz de ocultar a violência pedagógica e moralizaste
que constituía sua natureza mais íntima. Quanto ao resultado de seu esforço cientificizante, só pode ser visto como uma estridente ironia
do destino. Ao tentar dar um substrato anatômico à categoria recém-criada de doença
mental, aspirando ao reconhecimento da comunidade médica e científica, tudo o
que a psiquiatria conseguiu, em suas circunvoluções edificantes, foi mostrar,
ao contrário, que o patológico é fruto da civilização. Ao buscar um corpo para
a loucura, encontrou a história (...)"
Contribuir para o reconhecimento de novas
concepções acerca do papel Terapêutico-Educativo- Facilitador de
Transformações dos profissionais dos Cecco's, aliado a efetiva
participação popular, enquanto planejadora, avaliadora, termômetro da ação dos
serviços na compreensão da produção social do sofrimento psíquico, do processo
saúde-doença, da dimensão da cultura manicomial e da atenção em saúde mental
contra-hegemônica, consolidará de forma estreita uma também nova e necessária
concepção de "Qualidade de Vida", em que a expressão da subjetividade
e o exercício de cidadania sejam singulares e imprescindíveis.
Reflexões
de Gigliola Lo Cascio:
"(...)
Do momento em que as causas do mal não são mais procuradas nos deuses, mas nos
homens, inicia-se a caça aos "corpos de delito": bruxas, bruxos,
marginais e minorias são perseguidos porque são considerados responsáveis pelas
causas do mal. Nasce além disso a nova concepção da morte, não mais como
passagem para o além, mas como ameaça à destruição da ordem social: e do
momento em que não se consegue dar-lhe uma explicação aceitável, a única reação
possível é a de afastá-la. aprisioná-la, separá-la. Os hospitais funcionam,
assim, de um lado como antecâmara da morte, onde são recolhidos os doentes para
liberar a sociedade das doenças e dos contágios. do outro lado, como prisão
para os agitadores da ordem civil, para os vagabundos, para os mendigos, para
aqueles para os quais as medidas de repressão são necessárias".
Reflexões
de Peter Pál Pelbart:
(...)loucos
são internados juntamente com os doentes venéreos, os devassos, os libertinas,
os sodomitas e os alquimistas - todos transgressores da nova ética do trabalho,
nem propriamente miseráveis, nem doentes. "O que outrora constituía um
inevitável perigo das coisas e da linguagem do homem, de sua razão e de sua
terra, assume agora a figura de personagem", explica Foucault.
A desrazão,
antes inumana e onipresente, agora não passa de uma galeria de tipos
desviantes, identificáveis e condenados. (...)
A desrazão
era afetiva, imaginária e atemporal, a loucura será temporal, histórica e
social. É assim que no próprio momento em que a desrazão é silenciada, a
loucura é exibida de forma organizada e explícita, no escândalo de suas formas
e, por trás das grades, numa distância protegida".
Um exercitar diário - cotidiano de inúmeros
resultados favoráveis vem fundamentar o investimento articulado de vários
setores de políticas públicas municipais - o Intersecretarial - nos Centros de
Convivência e Cooperativa, buscando entendimento comum na linha da complementariedade
dinâmica e não da sobreposição setorizada, apostando numa parceria de cunho não
institucionalizador neste “fazer saúde" afim de tecermos cuidadosamente
uma "teia ecológica da subjetividade" em defesa de uma vida com
qualidade.
"A prática vivenciada em uma gestão democrática e popular como a em curso no Município de São Paulo desde 1989, aponta para o reconhecimento de que a determinação do que venha a ser Qualidade de Vida, deva ser definida através do postulado de participação efetiva dos trabalhadores, mulheres, negros, homossexuais, jovens, idosos, portadores de necessidades especiais... e todos os grupos que lidam por sua emancipação, na definição conjunta de metas e prioridades, traduzindo estes interesses nas políticas públicas visando:· Ampliar e melhorar a qualidade dos serviços sociais, mas principalmente,· Incentivar, no interior da sociedade, a difusão de relações sociais alternativas, objetivando a formação de pessoas capazes de decidirem, intervirem e se solidarizarem consigo mesmas e com os destinos da cidade.A experiência Intersecretarial no Grupo de Trabalho "Cultura, Cidadania e Saúde Mental" demonstrou ser possível praticar política pública social de forma integrada avançada e criativa, desde que seus agentes institucionais assumam a postura de colaboração fraterna acima dos interesses corporativos (...). A cultura de ações setoriais fragmentadas, com sobreposição de objetivos e dispositivos dificultadores da ação Intersecretarial que ainda impera no setor público municipal clama pela necessidade urgente da Reforma Administrativa elaborada pela PMSP, "quesito" indispensável para um desempenho administrativo menos burocrático e mais eficaz na resposta às necessidades de humanização das relações sociais em nossa cidade".
Relatório do G.T.I. Cultura, Cidadania e Saúde Mental, 1992
"Qualquer que seja o momento histórico em que esteja a sociedade, seja a do viável ou do inviável histórico, o papel do trabalhador social que optou pela mudança não pode ser outro senão atuar e refletir com os indivíduos com que trabalha para conscientizar-se junto com eles das reais dificuldades de sua sociedade”.
Paulo Freire, 1982
Será necessário um esforço conjunto,
co-gerenciado paritariamente, com a participação da população, no cotidiano
dos Cecco's, na perspectiva da reorientação e reformulação de valores onde o
repertório de cada indivíduo se potencialize e a abordagem de vários setores
sociais sobre estes indivíduos se dê holisticamente.
Portanto a relativização de um dado saber e um
dado poder, o reconhecimento do território, a relevância das condições de vida
e da história coletiva e individual determinando a forma de ser e de adoecer
das pessoas no mundo, aliados a escuta sensível à ressingularidades;
concorrerão para inaugurarmos um novo processo onde testemunharemos o desejo, a
solidariedade, a crítica, a liberdade, a organização coletiva, o afeto, a
cidadania... protagonizando o seu próprio "script".
CONSIDERAÇÕES
TÉCNICAS E INDICAÇÕES NORMATIVAS:
RECEPÇÃO - ACOLHIDA
A recepção - acolhida não significa
"receber pessoas encaminhadas", mas fundamentalmente um momento de
"acolhimento" (amparo e hospitalidade) às pessoas que chegam para
conhecer mais um serviço, muitas vezes após inúmeros encaminhamentos anteriores
marcados pela burocracia e a não-escuta, desprovidos portanto, de afeto, de
empatia, de possibilidade, consequentemente, do estabelecimento de vínculo.
No Cecco enquanto espaço aberto à escuta, ao
olhar, a inserção imediata deverá ser facilitada sem "a priori": de ficha de registro, entrevista, encaminhamento,
papéis..., signos institucionalizadores típicos dos serviços públicos de saúde
que intermediam a escuta, o olhar, o "vinculo" e anteparam a
responsabilidade na não absorção de demanda - desejo - necessidade do outro.
Estando o Cecco estruturado fundamentalmente
em ações abertas, poderá receber a quem chega de forma diferenciada, já
proporcionando o mínimo de contato interpessoal e oferta de atividades que
possam promover uma aproximação de vida, não burocrática, com quem procura.
Toda recepção - acolhida deverá possibilitar
um conhecimento do local (caminhada, visita monitorada), e da proposta, para
tanto todo Cecco deverá possuir como material subsídio a esta primeira e
importante atividade de acolher o "novo" que chega, cartilhas, gibis
e/ou boletins que esclareçam de forma simples e lúdica o que é o serviço dos
Cecco's em geral, e o seu papel no modelo de atenção à saúde como um todo além
do cronograma de atividades daquele Cecco especificamente. Também deverá ser
estimulada a apresentação de filmes-vídeos, de curta duração, que abordem a
dimensão mais global da questão manicomial e os vários serviços substitutivos
às instituições totais manicomiais (Hospitais Psiquiátricos, Asilos,...)
destacando exemplos de funcionamento e depoimentos de alguns Cecco's e em
particular daquele em que se encontra o usuário.
FUNCIONAMENTO RECEPÇÃO - ACOLHIDA
Deverá se dar todos os dias úteis, em qualquer
horário no período de 8:00 às 17:00 (média do horário de funcionamento da
maioria dos Cecco's).
-
Plantão de um técnico da equipe para a ação de recepção - acolhida diária
- Utilização de um bloco de registro que
conste nome, endereço, idade, ocupação, procedência, motivo, de todos que
procurarem o Cecco e a conduta do profissional
- Realização de entrevista pormenorizada poderá se dar no mesmo
dia da acolhida ou ser agendada para outro dia, dependendo da situação (no mapa
de atendimento individual ou grupal).
- Em caso de usuário em crise, na acolhida, deve-se intervir
imediatamente com abordagem técnica seguida de encaminhamento, com
acompanhamento de um técnico se necessário.
Para tanto
pressupõe sensibilização e preparação cuidadosa de todos profissionais do Cecco
para a tarefa de recepção - acolhida (através de discussões, leituras e jogos).
Todo Cecco deverá ter exemplares de guias
de serviços de saúde mental da cidade, gibis
sobre Cecco's e outros materiais gerais informativos (saúde. educação,
cultura,...) que deverão estar à
disposição da população para consulta e/ou distribuição.
O contato com este material deverá ser
monitorado pelo profissional da recepção - acolhida como atividade oferecida ao usuário ou pequenos grupos
de usuários que chegam (poderá se fixar
rotineiramente alguns horários aglutinadores para esta exposição).
O compromisso essencial deste serviço
deverá ser com a não institucionalização dos indivíduos, das diferenças, dos desejos, etc., não significando,
entretanto ações desprovidas de planejamento, organização e limites (na ocupação de espaços/no cumprimento de
contratos), mas que suponham uma relação entre seres vivos com direitos e
deveres sob o princípio da responsabilidade e da solidariedade, portanto sob o
princípio de uma nova ética, que deverá estar marcado explicitamente desde a
chegada do usuário ao serviço.
ENTREVISTA INICIAL
Deverá possibilitar
identificação de todo usuário e sua
referência, quando houver, de acompanhamento de saúde em unidade especializada
ou não, dado fundamental para a população alvo.
Deverá conter histórico de vida desde
composição familiar, história ocupacional e de saúde, habilidades específicas,
projetos de vida, interesses e expectativas.
Deverá identificar quanto ao Cecco como soube e
porque procurou.
Em se
tratando de população alvo estes dados serão imprescindíveis para um contato
com os serviços, principalmente de saúde, a fim de se efetivar a referência e contra
referência. Devendo ser uma prática dos profissionais dos centros de
convivência e cooperativas o contato pessoal com os profissionais na unidade de
saúde onde o usuário (pop. alvo) é acompanhado, possibilitando assim a
integração necessária para uma ação mais globalizante junto ao usuário e
garantia de retaguarda mútua.
A indicação é que esta primeira
entrevista seja individual ou em grupo familiar realizada por profissional
técnico, podendo ser agendada ou ocorrer no dia da chegada do usuário ao
serviço, entretanto sempre após a acolhida.
A
equipe técnica do Cecco deverá estar atenta, a partir da entrevista inicial, a
inserção da população alvo em atividades/oficinas, devendo orientar a esta
demanda, a partir de conhecimento de seu histórico de vida, quais atividades
mais propícias e as menos indicadas para um primeiro momento. Isto significa
que a equipe deverá ser vigilante quanto à escolha do usuário que não será de
toda arbitrária, devendo ser monitorada e esclarecida quanto a possíveis
cuidados ou riscos (Exemplo: usuário que faz uso de determinado medicamento que
compromete respiração ou excita o organismo quando de super-estimulação por
movimentos, neste caso atividades que exijam grande desempenho motor como
dança, corrida, aeróbica... deverão ser evitadas ou moderadas enquanto
persistir a medicação).
ENTREVISTA DE ACOMPANHAMENTO
Deverá
ser garantida a população alvo, uma vez ao mês, entrevista de acompanhamento,
ou seja, troca de impressões e informações do profissional do Cecco com usuário
e familiares sobre a qualidade da participação, da oferta de serviços e o
significado terapêutico na vida destes. Esta entrevista poderá se dar
individual ou coletivamente.
A
indicação é que cada profissional da equipe técnica tenha a responsabilidade de
acompanhar um determinado "montante" de usuários (população alvo), a
fim de possibilitar a vinculação e um melhor reconhecimento de participação e
evolução destes.
A
equipe deve se organizar e se predispor para esta tarefa de "adoção
qualificada", onde a empatia recíproca deve ser considerada na efetivação
da tarefa, assim alguns técnicos serão a referência para alguns usuários, não
exclusivos responsáveis, mas antes referência para a própria garantia de
suporte e definição de atribuições na equipe, recriando códigos de vinculação.
EVOLUÇÃO
Todo
usuário deverá ter em sua pasta de identificação, em arquivo, o registro da
entrevista inicial e o registro diário ou semanal de suas atividades, devendo
no caso da população alvo este registro ocorrer mais pormenorizado com a
característica de breve relatório sobre a evolução do usuário com relação a
suas necessidades específicas e qualidade de participação.
(Equipamentos de Saúde)
REFERÊNCIA E CONTRA-REFERÊNCIA
(Equipamentos de Saúde)
O
centro de convivência e cooperativa poderá receber encaminhamento de todos os
equipamentos de saúde, devendo em caso de população alvo receber anexado um
relatório, de histórico e tratamento de saúde, pelo profissional responsável
pelo usuário encaminhado.
A UBS
(Unidade Básica de Saúde) é a porta de entrada do sistema e, portanto deverá
priorizar a absorção da população alvo do Cecco, principalmente em se tratando
de grupos com menores "chances de vida psíquica" (alcoolistas,
drogaditos, psicóticos, suicidas).
Constituirá
pré-condição à participação no Cecco o acompanhamento em UBS dos P.T.M.
(portadores de transtorno mental) que careçam de atendimento ambulatorial em
saúde mental.
A fim
de sensibilizar e desmistificar as ações de saúde desenvolvidas pelo Cecco,
através de novas consígnias terapêuticas é indicado que o Cecco de forma
sistematizada desenvolva junto às UBS oficinas livres (expressão corporal,
confecção de máscaras, vídeo, mímica, massagem, exploração de cores através de
papel e plantas, etc...) principalmente junto às filas de espera de corredor,
grupos de 3ª idade, ... funcionários e técnicos, como possibilidade de ampliar
horizontes de aproximação e atração de usuários ao Cecco.
Em
casos de surtos, crises de pessoas acometidas de transtorno mental, frequentadores
do Cecco, caberá a equipe técnica sempre que avaliar necessário somente após
tentativas de resposta no equipamento, encaminhar ao serviço de emergência
psiquiátrica do P.S. do Hospital Geral de referência, o qual por sua vez deverá
impedir o encaminhamento para internação em hospital psiquiátrico, se a
internação for indicada esta deverá se dar em leitos psiquiátricos ou de
clínica médica, dependendo do quadro, no próprio hospital geral.
Necessária
se faz a garantia a nível distrital e regional de uma sistematização de remoção
de usuários do Cecco ao P.S., quando acionados pela equipe técnica,
constituindo-se em prioridade.
Não
obstante deverá se constituir em norma de conduta o acompanhamento, por no
mínimo 1 (um) técnico do Cecco, aos usuários, população alvo, encaminhados a
qualquer outra unidade de saúde (UBS, P.S. Hospital-Dia...), na qualidade de
"acompanhamento terapêutico" que venha a facilitar a inserção e a
preservar o valor terapêutico do vínculo, que gradativamente promova a ligação
com um novo serviço (um novo espaço de contrato) e também de forma gradativa se
afaste apostando no exercício de autonomia do usuário, e na capacidade de
acolhida terapêutica destes outros equipamentos.
A
avaliação para internação em enfermaria de saúde mental ou mesmo para
tratamento intensivo em regime de hospital-dia pressupõe uma avaliação técnica
mais minuciosa e especializada em equipe multiprofissional, devendo, portanto
não recair tal atribuição somente à equipe técnica do Cecco. Entretanto a
equipe do Cecco deverá apontar sempre que avaliar necessário tal conduta em
relatório e/ou discussão do caso ao P.S. em caso de indicação de internação em
enfermaria de saúde mental, e ao hospital-dia em caso de indicação de
atendimento intensivo.
O
Cecco deverá efetuar visita agendada a cada equipamento de saúde, a fim de
conhecer o serviço, os profissionais, o conselho gestor, a característica da
demanda, ... e de discutir e esclarecer sua normatização, objetivos,
característica e oferta, devendo fornecer material de esclarecimento e
divulgação do trabalho a todos os equipamentos.
REFERÊNCIA E CONTRA-REFERÊNCIA
(Outros Recursos Sociais)
(Outros Recursos Sociais)
O
Cecco deverá manter contato estreito com os recursos sociais pertencentes ao
seu território de abrangência, e contatos gerais-pontuais com instituições ou
recursos da cidade como um todo;
- Escolas
- Creches
- Associações (de usuários, de
bairro...)
- Centros de Juventude
- Bibliotecas
- Centros Esportivos e Desportivos
- Casas de Cultura
- Teatros
- Cinemas e Cineclubes
- Rádios
- Movimentos Populares
- Sindicatos
- Centros Comunitários
- Igrejas
- Parques Municipais
- Fábricas
Objetivando
tanto absorver demanda dos locais, conhecer a realidade destes e em alguns casos,
garantir a inserção de usuários dos Cecco's nestes recursos; efetuar
planejamento para ações conjuntas e troca de subsídios.
(p.e.) ser
atividade curricular de determinada cadeira-escolar, a visita ao Cecco de
classes de alunos para o desenvolvimento de determinada atividade dirigida pelo
professor e técnico do Cecco; empréstimo de livros pela biblioteca e desenvolvimento
de oficinas de leitura)
Ao
Cecco cabe efetuar visitas aos recursos da região da qual é referência, a fim
de conhecer o serviço prestado e se fazer conhecido em seu objetivo de
trabalho, para tanto subsidiando o local com material de esclarecimento de
proposta e de divulgação.
Em se
tratando de Escolas e Creches caberá a equipe dos Cecco's visitas mais organizadas
e sistematizadas que objetivem a sensibilização destes equipamentos, a fim de
planejarem conjuntamente a utilização do Cecco por esta população institucional
e, em contrapartida, ações mais dirigidas de Educação Popular em Saúde Mental,
por parte dos Cecco's, aos usuários e à estrutura destas instituições
educacionais.
Caberá
ao Cecco à iniciativa de divulgação e apoio, como também parceria privilegiada e
incondicional na viabilização do Projeto: Centro de Apoio e Projetos que introduz
nas Escolas e Creches Municipais os considerados diferentes (portadores de
necessidades especiais em geral deficientes, doentes ...), em espaços comuns
(p.e.) em classes regulares, não especiais - sinal nítido de segregação -, com
a retaguarda de salas de apoio com recursos materiais e humanos especializados
para além do curso regular, aberta a interessados em geral.
Todo
Cecco deverá montar cadastro e arquivo de recursos da comunidade local e geral
da cidade, constando identificação, endereço, objetivo, filosofia de trabalho,
tipo de oferta, a quem se destina, pessoa de contato-referência e telefone.
ATIVIDADES EXTERNAS COM MOVIMENTOS
SOCIAIS, INSTITUIÇÕES EM GERAL E UNIDADES DE SAÚDE.
- Sendo o Cecco um espaço facilitador de expressão de heterogeneidades, de espelho da sociedade manifesto na mistura dos inseridos mais aceitos e menos aceitos;
- Sendo o Cecco um provocador de valores ao arrogar para si a tarefa de colaborador na reinserção social dos discriminados, explicitando na verdade uma concepção para além do jargão, força de expressão "reinserção social", pois não há como reinserir o inserido, antes e fundamentalmente procurará refletir e questionar o conceito de inserção e a qualidade desta, identificando o grau de perversidade do lugar socialmente dedicado aos "diferentes";
- Sendo o Cecco um defensor da qualidade de vida e não obstante entendendo o ser humano enquanto um ser produtivo: de vida/de sonhos/de trabalho-vivo/de prazer-desalienação/de construção/de originalidade-criação...;Sendo o Cecco um espaço possibilitador de participação num mundo do trabalho a partir da equação:
Convivência
+ Cooperação
Produção Singularizada = Poder Contratual
|
- Sendo o Cecco um palco privilegiado como um "laboratório de vivências e modelos de vinculação", questionador de uma dada normalidade e de uma dada relação com a Natureza;
- Sendo o Cecco um ousado instigador da atuação viva na vida, à mera contemplação da "natureza viva";
Como o mundo fora
do Cecco também convive, questiona e se organiza/desorganiza, é de extrema importância
aproximar e ampliar horizontes dentro deste mundo comum. Assim deverá
constituir tarefa prioritária dos profissionais do Cecco o contato para
conhecimento e troca com os Movimentos, Entidades Sociais, outros da área a
quem o Cecco abrange e é referência como Movimentos de saúde, educação,
mulheres, negros, índios, culturais, ambientalistas, Pastorais, Sindicatos,
Sociedade amigos... Igrejas, Terreiros de Umbanda, Candomblé,..., a fim de dar
visibilidade a realidade local, promovendo junto a estes segmentos discussões e
reflexões sobre a cultura manicomial, ou seja, a cultura da discriminação, da
exclusão, da marginalização, da segregação e extermínio do que incomoda, do que
é diferente, do que não se enquadra nos padrões de normalidade e disciplina.
Como também detectar espaços e práticas de equilíbrio psicossocial utilizados
pela população.
Este processo de
educação popular, onde se associa sofrimento mental e qualidade de vida das
pessoas, onde se associa manicômio com fábrica, escola, asilo, família..., onde
se associa aculturamento e alienação, deverá ser protagonizado pelos Cecco's a
fim de clarear cadeias explicativas e processuais de sofrimentos e
mistificações, e acima de tudo favorecer a inserção de outros indivíduos nos
canais organizados de mobilização da sociedade, valorizando ações que busquem
preservar costumes, culturas, crenças de populações migratórias, por exemplo, e,
portanto diferenciadas.
Portanto deverão
ser planejadas, organizadas e avaliadas ações que promovam o fluxo: Cecco -
Movimentos e Entidades Sociais - Cecco como atividade externa das mais
fundamentais, que busquem resgatar as potencialidades e as identidades abafadas
nos cantos dos bairros, regiões, sinais de sanidade de um povo de seu
nome e raiz, e a participação efetiva da comunidade organizada na apropriação
da coisa pública, principalmente do Cecco, via canais de co-gerenciamento.
Outro aspecto do trabalho externo será o mapeamento in loco das
instituições em geral que existem na região (Biblioteca, Cinema, Teatro, Escolas,
Creches, Centros de Juventude, Fábricas,...) a fim de:
- · Conhecer sua filosofia de funcionamento, objetivos, história, população alvo ...;
- · Favorecer, quando interessar, o fluxo de referência e contra-referência;
- · Colaborar na descrição do perfil da região onde se inserem os usuários do Cecco;
- · Possibilitar discussões sistemáticas do Sentido do Manicomial;
- · Impressões gerais.
A confecção de relatórios das visitas a
estas unidades/instituições deverão constituir arquivo valioso ao Cecco.
Com relação às unidades públicas de
saúde, deverá caracterizar atividade inerente e condicionadora ao bom
funcionamento do Cecco, o conhecimento das unidades de referência para a
população alvo, em particular para a população acometida de transtorno mental.
Para tanto a visitação destas unidades
deverá se valer de ações organizadas e periódicas através de:
·
Desenvolvimento de Seminários internos às
Unidades com discussão de casos exemplares;
- · Conhecimento e discussão das normatizações de ambos os equipamentos;
- - Visitas monitoradas ao cecco;
- · Retorno sistematizado dos encaminhamentos realizados de uma unidade à outra;
- · Planejamento e Organização conjunta de atividades comuns em qualquer uma das unidades (por exemplo: Gincanas de Arte "Fazendo Arte"; Mostra Livre "O que se sabe fazer"; Conversas dirigidas em filas de espera "Quem conta acrescenta uma ponta"; Almoço Comunitário; Roteiros para Educação Ambiental "Caminhada Ecológica"...)
Importante ressaltar a necessidade de
proximidade e troca entre os profissionais das várias unidades além de um
conhecimento do local (instalações e propostas) a fim de facilitar um fluxo
responsável e solidário, e não meramente burocrático.
O vínculo deverá constituir algo não
teórico, portanto, quesito básico para o bom desenvolvimento do trabalho
articulado.
VISITAS E
AÇÕES DOMICILIARES
As visitas e as ações domiciliares para o
Cecco deverão ser uma prática pautada fundamentalmente na necessidade de
garantir o acesso do usuário ao Cecco e de dar elementos para um melhor
conhecimento das condições de vida de uma determinada pessoa ou família,
variável sinalizadora de recursos internos e externos disponíveis a facilitar
ou não, o processo de convivência, de cooperação e consequentemente de chances
de vida de um indivíduo ou um coletivo em que este se insere.
Diferentemente da conhecida rotina da
maioria das unidades de saúde, a visita e a ação domiciliar para o Cecco deverá
possibilitar intervenções diretas ou indiretas, sempre que necessárias, na
dinâmica familiar diária e oferecer orientações, principalmente de cunho social
de direitos a bens e serviços e propriamente o exercício de cidadania
(contribuição âncora do serviço social articulado ao restante da equipe).
A rotina do Cecco deverá estar marcada,
de forma sistemática e planejada, por esta ação (visita e ação domiciliar), que
carrega em sua essência dois dispositivos imprescindíveis ao fenômeno
Convivência - Cooperação, para além dos muros do Cecco:
I.
"Radar" identificador de situações
geradoras ou fatos explícitos de marginalização, maus tratos, segregação (por
exemplo, "cárcere privado", abandono, violência, fome, exploração de
trabalho, classe especial em escola comum, ...);
II.
"Modelo Estimulador" de Educação
Popular em Saúde Mental Comunitária e/ou de Leitura do Adoecimento Patrocinado
pela Institucionalização, por envolver a vizinhança, referências da família,
movimentos populares e sindicais, no compromisso coletivo para soluções
conjuntas diante de situações geradoras de sofrimento. Fator Desmistificador da
"chamada loucura", identificando e questionando os determinantes
sociais do sofrimento mental, e Incentivador de ações comunitárias solidárias
em acolher quem sofre mentalmente, potencializando os próprios recursos da
comunidade (por exemplo, famílias substitutas à crianças, idosos, deficientes,
doentes ..., mesmo que durante parte do dia, quando do horário de trabalho dos
"responsáveis", afim de evitar o encaminhamento a instituições
totais: orfanatos, casas para deficientes, asilos, hospícios, outros...).
Sendo os indivíduos seres de múltiplas
relações e inserções em variados contextos (família, trabalho, escola,
comunidade...), o que refletimos acima se aplica enquanto princípio a outros
contextos mais fechados pela característica institucional (por exemplo,
fábricas), considerando-se as devidas proporções e parcerias nesta ação (por
exemplo, trabalho conjunto com Centros de Referência de Saúde do Trabalhador,
Unidades Básicas de Saúde, Núcleo de Ação Educativa-NAE...).
A visita ou a ação apesar de constituir
uma rotina do Cecco, também poderá ser solicitada por usuários, familiares,
movimentos populares, instituições para sensibilização e/ou até avaliação de
conduta.
Poderá a visita caracterizar-se enquanto
recurso importante na compreensão de afastamentos ou ausência de usuários da
população alvo ou não.
Portanto a visita e a ação domiciliar
deverá funcionar como elo mais direcionado e expressivo de vinculação com
indivíduos e contextos e não com números, cid's ou prontuários.
O Cecco deverá se organizar para estar
atento e pronto a ir ao encontro de quem lhe pede ajuda através de várias
linguagens e formas, muitas vezes através da própria ausência.
OFICINAS
(A linguagem de artistas-obreiros)
A
arte tem um dever social que é o
de
dar escape às angustias da época.
O Centro de Convivência a Cooperativa não
deverá ser simplesmente sinônimo de oficinas, sua vocação não se assemelha a de
uma escola profissionalizante, ou de espaço de cursos vivenciais, técnicos, ou
ainda de espaço de lazer descompromissado e aleatório.
O Centro de Convivência e Cooperativa
investirá numa auto-identidade de espaço propiciador à invenção de novas
consígnias de expressão, relação, convivência, e poder de troca-barganha,
confeccionados a partir do referencial próprio de cada usuário, tendo como pano
de fundo, a ser considerado, um mesmo arcabouço social-ideológico a que todos
estamos diferentemente submetidos.
A conjugação de vários elementos para a
construção de novas consígnias se utilizará, na maior parte das vezes, do
original ofício de "obrar" a própria vida à luz de sons, movimentos,
cores, toques, expressões, olhares, falas, grunhidos... ingredientes combinados
à criatividade, a renovação e a descobertas vocacionais-críticas, constituindo
experiência singular e incentivadora de coletivização e negação do isolamento,
As oficinas enquanto atividades dos
Centros Convivência e Cooperativas, internas ou externas, deverão constituir
espaço facilitador à convivência não objetivando em primeira instância o ensinar
e o avaliar de um dado aprendizado, sendo que o desejo ou mesmo a apreensão de
determinada técnica ou conteúdo, poderão ser inspirados ou mesmo facilitados a
serem desenvolvidos, como objetivo secundário, por vezes, em outros espaços ou
atividades a serem formuladas pelo Cecco.
As oficinas deverão se caracterizar
enquanto aglutinadoras de pessoas diferentes (oficinas heterogêneas
preferencialmente). O instrumento facilitador desta aglutinação deverá ser a
tarefa proposta pela oficina, fundamentalmente, evitando os
"naturais" agrupamentos (culturalmente estimulados) por patologia,
por dificuldades comuns, ou seja, por característica estigmatizante (por
exemplo: grupo de psicóticos, grupo de deficientes, hipertensos, idosos ...)
Não obstante se pelo tipo de tarefa
houver um maior interesse de determinado grupo heterogêneo, isto não
constituirá desobservância às metas, estas são indicativas e provocadoras de
postura vigilante-crítica por parte do corpo técnico em relação ao risco dos
guetos, pela sua característica segregacionista, que paradoxalmente pode em
dado aspecto significar "espaço-forma" de busca de
"pseudo-proteção" em um dado conjunto estigmatizado, opção pelo
isolamento coletivo ao isolamento individual. Há que se cuidar de maneira hábil
e delicada a fim de se discernir este mecanismo perverso do agrupamento dos
iguais, significando perpetuação de guetos à simples opção, por conta da senha
- tarefa inspiradora e impulsionadora, de determinadas associações de pessoas com
dadas características homogêneas.
Por exemplo: uma oficina de dança de salão que agrega pessoas de 3ª idade (idosos) em sua esmagadora maioria: poder ser entendido este fenômeno aglutinador homogêneo como um dado positivo ao processo de convivência e resgate histórico de identidade destes indivíduos, numa provável manifestação de prazer.
Portanto, o que há de novo e tecnicamente
relevante a se explorar na concepção de oficinas, além dos objetivos, da
composição de seus participantes, da construção de consígnias referenciadas na
manifestação da subjetividade e na ressingularização dos indivíduos, é
propriamente a forma que estas oficinas se apresentam.
Assim deverá se trabalhar a preservação
da tarefa muito mais enquanto linguagem do que significação técnica com dado
conteúdo programático a ser desenvolvido. Possibilitando uma aproximação de
pessoas que queiram entrar em contato com a música, a dança, o teatro, a
pintura sem exames pré-admissionais de aptidão e sem sabatinas periódicas de
avaliação de desempenho. Exercício este bastante singular que estará sob a
coordenação e vigilância de um corpo multidisciplinar que também estarão em
curso de um ressignificado da própria ação profissional (postura,
desenvolvimento, postulados teóricos ...)
Quando identificamos a linguagem como o
aspecto qualitativo e diferenciador da oficina, das atividades dos Cecco's,
identificamos um dos aspectos fundamentais de sustentação da proposta de
convivência, pois a linguagem será o instrumento guia de manifestação de
signos, a serviço da comunicação entre indivíduos que poderão utilizar diversos
órgãos do sentido ou mesmo elementos diversos, o próprio afeto para captar e
expressar ideias, sentimentos, modos de comportamento.
A convivência, assim, irá assumindo um
contorno de convivência tanto individual quanto coletiva, ou seja, de cada
pessoa reconhecendo o seu próprio signo, decodificando o signo de outros
indivíduos e resignificando um signo(s) grupais de manifestação de sentimentos,
ideias, contatos; movimento este por si só analítico-crítico no seu tempo, na
sua forma própria e bastante original pela simplicidade dos instrumentos
utilizados.
Deveremos ir identificado processualmente
as pessoas se agruparem em torno de tarefas como dançar, cantar, dramatizar,
pintar, ... pelo prazer e/ou oportunidade que tais tarefas-linguagens
proporcionam para a própria linguagem do corpo, da história, do afeto de cada
indivíduo se fazerem ouvidas e fundamentalmente trocadas na relação com o
outra, como um primeiro reexercitar de poder de troca subjetiva onde alguém se
reconhece como determinador de algo próprio e original para poder oferecer,
mostrar a outrem: sinal de identidade e diferenciação, elementos imprescindíveis
a idiossincrasia, a construção de cidadania.
As oficinas deverão ter como alvo de
preocupação, por parte de seus profissionais responsáveis, a reflexão diária da
determinação social do sofrimento dos indivíduos manifesta principalmente na
diferença de oportunidades, nas limitações impostas pelas condições de vida, de
trabalho, na qualidade das relações interpessoais. Tal ação deverá objetivar um
processo desmistificador e reorientador de nexos-causais na cadeia
determinística do sofrimento das pessoas. Em se tratando de sofrimento psíquico
patrocinado pelo estigma, pela segregação..., através da problematização da
imagem e papel social veiculados acerca do indivíduo acometido por transtorno
mental, do portador de deficiência, do idoso, das crianças e adolescentes de
rua, ... se buscará no dia a dia da convivência, o questionamento, a reflexão e
o enfrentamento conjunto, evitando negação da realidade ou mesmo atitudes de
compaixão, racionalização e/ou explicações religiosas/místicas, principalmente
por parte daqueles que monitoram, assumem a coordenação ou acompanham voluntariamente
Os trabalhos, sendo de responsabilidade do corpo técnico subsidiar e
supervisionar este desenvolvimento diário e promover discussões sistematizadas.
Por
exemplo:
- · Trabalhador mutilado na máquina de uma firma ou com depressão psicótica "ocupacional"- conviver com a diferença no Cecco pressupõe fazer a relação das condições e organização do trabalho a que esteve ou está submetido, a necessidade de horas extras, o stress ... e o acidente, o sofrimento;
- · Criança portadora de determinada deficiência mental - conviver com a diferença no Cecco pressupõe recuperar a história gestacional, acesso ao pré-natal ao leito obstétrico e principalmente rememorizando condições de assistência ao parto e a chance-probabilidade das lesões ao nascer ... e o acesso obtido a esclarecimentos e orientações;
- · Adulto suicida ou alcoolista - conviver com a diferença no Cecco pressupõe considerar o desemprego, a decepção no amor, a auto-estima ... e o desespero, a fuga;
- · Criança de rua - conviver com a diferença no Cecco pressupõe considerar a migração, a exploração de mão de obra barata, a expulsão da escola, a fome, a violência, o abandono, o aliciamento, a corrupção e a aventura da "pseudo-liberdade" ... concorrendo para a desconfiança, a formação de guetos e a insensibilidade afetiva relacional-reacional;
- · Idoso hipertenso. choroso - conviver com a diferença no Cecco pressupõe considerar o papel social da velhice caracterizado pela desqualificação, improdutividade, abandono, institucionalização ... carência de afeto, psicossomatização, solidão".
A convivência não poderá se furtar à
leitura de mundo, a visão de homem, a história de cada um será a partir do que
está fora: arte, música, o esporte... que cada um poderá aos poucos falar (em diversas
linguagens) do que está dentro, desde potencialidades até preconceitos, dores,
culpas e sonhos, para novamente como numa espécie de espiral retornar ao fora e
olhar sob outro ângulo através de outros instrumentais, talvez mais coletivos.
Invariavelmente surpreendendo-se modificado em busca do delicado discernimento,
incômodo necessário, entre a desigualdade e a diferença.
Considerações
para operacionalização:
O planejamento específico, execução e
avaliação diária destas atividades deverão ser feitas conjuntamente pela equipe
técnica, oficineiros, voluntários e usuários.
As oficinas a serem oferecidas deverão
atender fundamentalmente a demanda da população, devendo os recursos humanos e
materiais se adequarem a tais necessidades. Embora algumas atividades despertem
particular interesse de um grupo (por idade, sexo, característica de deficiência
ou limitação, condição social, etc.) as mesmas não devem ser restritas a estes
segmentos de pessoas. Todas as atividades devem estar abertas a qualquer
usuário que possa se interessar por elas.
Deve ser observada a norma que propõe
indicativamente um índice percentual para a garantia de heterogeneidade dos
grupos-oficinas. (vide Metas).
Cabe à equipe técnica estar atenta aos
diferentes interesses, possibilidades e limitações dos usuários, bem como
estimular e favorecer a integração orientada ao grupo e a atividade.
Importante ressaltar uma cadeia na
dinâmica das oficinas a ser observada a fim de não correr riscos, da ordem:
. Atividade pela atividade
. Descompromisso na vinculação
. Usuários submissos (pacientes) a um
dado movimento técnico
Para tanto, deve-se considerar o processo
de constituição e desenvolvimento de uma atividade enquanto processo grupal,
estimulando e acompanhando a característica da interação, troca e comunicação
que se estabelece entre os elementos do grupo e o produto final desta
atividade.
É imprescindível a sensibilidade e a
escuta para decodificar as senhas que facilitam ou não a participação de
determinadas faixas etárias ou funcionam como "iscas" para
determinados segmentos. Decodificar estas pistas contribui para uma melhor
compreensão das especificidades dos vários segmentos, estimula a empatia e a
criatividade em atingir a ampliação de participação. Pressupõe, portanto
pesquisa, estudo e planejamento cuidadoso.
Destacamos alguns exemplos mais comuns de
"linguagens-senhas-iscas" facilitadoras de aglutinação inicial de
determinados grupos: Dança de Salão; Artesanato; Roda de Conversa (histórias,
casos, receitas, poesias); Tai-Chi-Chuan; Capoeira; Atividade de Circo;
Leituras de Contos Infantis; Jogos de Mesa; Caminhadas; Brincadeiras Infantis;
Ginástica; Música; Coral; Relaxamento; Ioga; Ikebana; Origami; Cerâmica;
Cozinha Experimental; Horta; Jardinagem; Plantas Medicinais e Ornamentais; Trabalhos
Manuais (tricô, crochê, corte e costura); Tear; Papel Reciclado; Sucata: Teatro;
Bonecos-Fantoches; Marcenaria; Cartonagem; Confecção de Máscara,- Pipas e
Instrumentos Musicais; Macramê, Argila; Jogos Esportivos; Massagem; Danças
Populares e Folclóricas; Bocha: Artes Plásticas; Pintura; Expressão Corporal,
etc.
Deve-se cuidar e direcionar para que algumas
oficinas, que por sua característica, propiciam um se constituir enquanto
embriões de núcleos de trabalho-cooperativas possam ser desenvolvidas por
iniciativa do Cecco, como é o caso:
por exemplo: da marcenaria, hortas, jardinagem, tear, cozinha, artesanato, cartonagem, papel reciclado, etc.
Toda oficina-atividade deverá contar com
a participação atuante (não apenas de observador ou de provedor de
infra-estrutura) de 1 (um) profissional do corpo técnico enquanto suporte
específico ao oficineiro e/ou enquanto próprio coordenador.
As atividades Eventuais como palestras,
passeios, assembleias, festas, participação em eventos comemorativos, feiras
culturais, etc., são assim denominadas por não se constituírem atividades
diárias, entretanto devem ser fruto da discussão e organização conjunta através
da comissão gestadora. Salientamos o grande valor destas atividades que avançam
para um espaço ainda menos protegido, pela sua amplitude pública, como o são os
cinemas, os passeios em ônibus comuns, às feiras. a padaria, o mercado, a
praça, o teatro, os eventos culturais, o zoológico, onde a questão da cidadania
do diferente pode e deve ser escancarada afim de tensionar e provocar novas
conquistas contratuais com a mesma "mater-sociedade", genitora das
desigualdades.
Na concretização dessas diretrizes destacamos, entre
outras ações, o Centro de Convivência e Cooperativa que se caracteriza como um
espaço alternativo-substituto, ao modelo manicomial assistencialista,
segregacionista, hegemônico em nossa cidade representado pelo Hospital
Psiquiátrico.
Organograma de Funcionamento do CECCO
NÚCLEOS DE TRABALHO – COOPERATIVAS
... Subiu a construção como se fosse máquina. Ergueu no
patamar quatro paredes sólidas/Tijolo com tijolo num desenho mágico. Seus olhos
embotados de cimento e lágrima ... Sentou pra descansar como se fosse um
pássaro e flutuou no ar como se fosse um príncipe ...
Chico Buarque
Cabe a equipe
do Cecco estimular, facilitar e promover a formação de núcleos de trabalho
cooperado entre seus usuários, objetivando a retomada de participação no mundo
do trabalho e numa dada produção: de bens, de serviços, de conhecimentos
regidos pelo princípio da convivência e da cooperação.
Entendemos por princípios de
convivência e cooperação, fundamentalmente uma nova qualidade de relações
marcando contratos afetivos e de trabalho, ou seja, a decodificação do que são
consideradas limitações e deficiências - em diferenças, e esta
heterogeneidade gerando produções conjuntas, concebendo assim as pessoas num
novo patamar de concepção de homem e de mundo.
Ao reorientarmos códigos
estigmatizantes com função social estabelecida na direção da alienação,
facilitadora da exploração e da manutenção da relação dominador-dominado,
introduzirmos uma possibilidade de
também re-significarmos o olhar sobre cada um de nós e sobre um coletivo,
relativizando parâmetros de potencialidades e limitações de cada um, portanto
identificando-as de forma não globalizante na vida dos indivíduos, enquanto
determinantes prévios do fracasso ou êxito e sim enquanto características a
serem questionadas, respeitadas e consideradas no momento em que atividades de
convívio e de trabalho forem se estabelecendo.
Deverá assim
ser estimulada a manifestação das potencialidades e a utilização destas na
relação com o mundo do trabalho. Caracterizando as limitações e/ou dificuldades
enquanto parte de um indivíduo e não a própria identidade deste. Superar
"a prioris" culturais impeditivos a novas conquistas, delegando ao
desejo e a iniciativa o poder de alterar pressupostos aparentemente
inquestionáveis
por exemplo:
uma pessoa portadora de deficiência física, membros inferiores, que utiliza cadeira
de rodas para se locomover, decide desenvolver a capacidade de dançar.
Estimular sua participação em atividades de dança deverá proporcionar fundamentalmente,
a oportunidade de reorientação do conceito de dançar, rompendo padrões
pré-estabelecidos.
Ninguém é
deficiente mas antes "porta" ou está acometido de uma
determinada "não eficiência", para determinada ação ou tarefa,
o que na verdade muitas vezes pode analogamente significar diferenças da ordem
das vocações. Portanto o mais "eficiente" poderia ser o mais
vocacionado a desenvolver determinada tarefa. Há que se estimular as
eficiências às não eficiências a fim de ampliar chances de vida e de prazer aos
indivíduos.
Consequentemente Os núcleos de trabalho, embriões de
cooperativas se desenvolverão enquanto espaços de construção conjunta,
complementar e somatória no investimento de força, disponibilidade e "vocação-eficiência"
de cada um na produção de algo coletivo e não alienado, tendo como pano de
fundo a discussão das condições de trabalho (processo, organização, ambiente)
enquanto determinantes do sofrimento mental.
Assim a
cooperação se inscreve no processo do Cecco como característica principal de
identidade, ou seja, será através da colaboração, do afeto, do respeito e do
investimento somatório que se chegará a uma produção coletiva. A produtividade
competitiva, o trabalho repetitivo, a não apreensão do processo de forma
globalizante e a não apropriação deste em sua organização desenvolvimento,
aspectos característicos de um processo-organização de trabalho alienante,
explorador e gerador de sofrimento, que deverão ser mais que evitados, deverão
ser combatidos e constituir objetos de discussão explícita nos núcleos de
trabalho.
A cooperação,
por sua vez, sustentando a estrutura de produção. possibilitará que cada
indivíduo contribua com o seu montante máximo de qualidade num contrato grupal
de condições "homogéneas" de disponibilidade, investimento,
responsabilidade..., homogeneidade balisada pelo repertório-medida-máxima de
cada um, manifestada através do compromisso individual.
Assim cada um
produzirá um dado produto, fruto de discussão e definição prévias acerca de um
resultado a ser construído solidariamente a partir da contribuição do melhor de
cada um na dada construção. Consequente e coerentemente com estas considerações
e pacto, a divisão do lucro deverá ser igualitária, quando da comercialização
deste produto coletivo.
Por exemplo:
Em 03 (três) dias de núcleo de trabalho - cooperativa um indivíduo, por suas
características e limitações produziu 02 (dois) objetos da melhor forma que lhe
foi possível e outro indivíduo produziu 05 (cinco) objetos, também da melhor
forma que lhe foi possível, no mesmo grupo sob as mesmas condições de recursos
de infra estrutura disponíveis, utilizando o mesmo tempo para execução. A
divisão do lucro na venda destes produtos será igualitária, mesmo porque não se
tratou de um contrato grupal competitivo e centrado na produtividade.
Portanto, o termômetro sinalizador deste processo e
contrato de trabalho, reside justamente na homogeneidade de direitos em
respeito às diferenças expressas muito mais na forma do que na essência dos deveres viabilizadores da produção
conjunta. Testemunhamos assim um verdadeiro exercício de democracia e
convivência responsável e indiscutivelmente muito mais difícil por sua característica contra
hegemônica.
Nos núcleos de
trabalho-cooperativas, diferentemente das oficinas de convivência, onde o produto final não é o
mais importante, onde não há a comercialização e onde o contrato é feito objetivando outras metas,
a participação dos usuários pertencentes à população alvo (acometidos de
transtorno mental, portadores de deficiências em geral, idosos, crianças e
adolescentes de rua, portadores de necessidades especiais) poderão se dar em
agrupamentos independente da observância das mesmas taxas percentuais a serem cuidadas na composição
das oficinas de convivência, com relação à população "tida normal",
pois a dificuldade de inserção no mundo do trabalho é maior com os
estigmatizados, portanto deverão ter prioridade, mas não necessariamente exclusividade
nas cooperativas.
Os agrupamentos poderão se dar
associando necessidade de trabalho - desejo de desenvolvimento de determinada
habilidade - resposta a determinada carência territorial
por exemplo;
grupo de senhoras que desejam aprender a confeccionar pães diversos, roscas e
identificam na região a distância da padaria existente para os potenciais consumidores.
Deverá, portanto caber ao Cecco esta delicada tarefa de
facilitar a associação destes aspetos e a definição do tipo de cooperativa em conjunto
com os usuários, não obstante, observando as condições locais da unidade em
poder favorecer o desenvolvimento da determinada opção.
Assim os Cecco's funcionarão como
"Laboratórios provisórios" deste ofício de convivência-cooperativa
com a ajuda e vigilância do corpo técnico, principalmente na discussão de 04
(quatro) pontos fundamentais:
1)
Concepção de
trabalho, de lucro, de capital, de cooperação e convivência.
2)
Papel do Serviço
Público enquanto facilitador inicial deste novo modelo.
3)
O investimento em
Economia-Popular.
4)
Autonomia de Gestão
e assessoria técnica do Cecco.
Laboratórios
Provisórios, fundamentalmente, no que se refere à economia popular, autogestão
e constituição de cooperativa, ou seja, aqui entra em cena o papel do Serviço
Público. Num primeiro momento caberá ao serviço público oferecer material
necessário ao desenvolvimento dos núcleos de trabalho, embriões de cooperativas
(por exemplo)
sementes, adubo, espaço para a viabilização de hortas, quando da produção das
hortaliças; caberá aos técnicos coordenar as discussões sobre o que fazer com a
produção: consumir parte no próprio Cecco, dividir terça-parte com quem plantou
para consumo particular e a parte restante vender? ou a venda somente das
cenouras e o consumo da couve,?
Ou
(por
exemplo) papel, tinta, cola, tesoura, plástico, cera, para
a confecção de cartões e a comercialização destes, por exemplo, por ocasião do
Natal.
Seja qual for a
iniciativa todos terão o primeiro investimento favorecido pela unidade pública,
sendo que a comercialização implicará na "devolução" deste
investimento na forma de materiais de
consumo para outras atividades de continuidade dos núcleos de trabalho, e a
diferença de dinheiro recebido
ser a possibilidade concreta de se exercitar a divisão igualitária de
remuneração ao trabalho cooperado.
Mesmo quando
de materiais doados, muito comum de ocorrer nos Cecco's, o raciocínio deverá ser o mesmo de utilização,
reinvestimento e possibilidade de remuneração igualitária. Daí denominarmos laboratório pela
característica experimental e de laboratório-ensaio de um modo singular de associação,
produção e emancipação gradativa, daí a provisoriedade do ensaio-experimento.
Esta passagem inicial para a
constituição do grupo com identidade na tarefa, pactos claros e iniciação na própria coordenação e condução das
discussões será o sinal da sua caracterização enquanto cooperativa propriamente, sinal também da possibilidade
real de desligamento do serviço público
e apropriação de outros espaços de forma autônoma, enquanto sujeitos em
defesa da própria liberdade, autonomia
e dignidade (por exemplo) saída para a construção de hortas em terrenos cedidos
pelo governo, ou em
terreno próprio.
O montante
inicial de dinheiro para fazer movimentar este empreendimento fora dos muros do
serviço público deverá ser fruto das primeiras iniciativas nos núcleos de
trabalho no Cecco, com
lucro dividido e parte ou integralmente aplicado a fim de constituir
"fundo-capital" para emancipação e incentivo em economia popular.
Este tempo processual também deverá colaborar na definição, conjunta e
assessorada, de normas, objetivos, investimentos e organização da nova qualidade
de associação à luz da cooperação e da convivência.
O papel do corpo técnico será de
inestimável importância para a leitura da dinâmica das relações, no estímulo a
solidariedade, na abordagem crítica frente ao mundo do trabalho que irá sendo
constituído. Deverá assessorar a experiência de re-significado de autonomia e
dignidade, durante o tempo que for necessário ou solicitado, mesmo fora da
unidade pública nas cooperativas auto-geridas e expandidas.
Como incentivador do regime de
economia popular o Cecco não promoverá convênio com fábricas, indústrias, etc.
mas antes priorizará estímulo e assessoria ao consórcio de usuários na
construção e invenção de suas formas de produção.
Em se tratando de população alvo,
principalmente os acometidos de transtorno mental, o valor na efetivação deste
contrato associativo constitui fator fundamental a sua resingularização, ou
seja, o resgate da valorização, do exercício de cidadania quando da
apropriação, pelo então estigmatizado, do seu poder de troca, de barganha, de
compra e venda, de voz, vez e voto no jogo social.
COMUNICAÇÃO, DIVULGAÇÃO E
EDUCAÇÃO POPULAR
É indicado que 01 (um) técnico em
cada Cecco seja responsável pela coordenação e educação popular sobre a
proposta e a vida diária do Centro de Convivência e Cooperativa.
Deverão
ser constituídas em todos os Cecco's oficinas de jornal e comunicação com os
usuários para a confecção de seus próprios boletins que possam ser utilizados
como subsídio aos usuários novos, aos visitantes e mesmo como veículo de
comunicação interno ao serviço e externo com a comunidade em geral e os
equipamentos sociais.
Estas oficinas deverão possibilitar
a confecção de outros elementos de comunicação e difusão de produções
literárias, poéticas,... dos usuários, que promovam a manifestação da
memória-histórica territorial através de murais e painéis de poesia, cordéis,
gibis, crônicas, contos infantis, memória-oral
e transcrição em manual do local - cantigas de roda, brincadeiras, uso
de ervas medicinais, estórias da história local, história da história -.....
Os núcleos de
comunicação alternativa como jornal, rádio, da região em que se insere o Cecco, os grandes jornais
locais, os núcleos de comunicação e imprensa dos distritos de saúde ...,
deverão constituir contatos sistematizados dos Cecco's afim de
favorecer o intercâmbio e a difusão das idéias, das produções dos Cecco's e da
viabilização de uma Cultura Antimanicomial contra-hegemônica.
Deverá
constituir atividades dos Cecco's a realização de festas, feiras, debates,
sóciodramas-públicos ... Em elaboração conjunta com movimentos sociais e
entidades locais, que venham a somar com os eventos próprios,
folclóricos ou não, de determinada região em que está inserido ou mesmo que
venham resgatar identidades locais adormecidas (por exemplo concentração de
nordestinos, interioranos ou imigrantes italianos, espanhóis...), inovando com
propostas impulsionadoras de aglutinação e participação destes e outros
moradores locais (por exemplo através de atividades de rodas de ciranda,
quadrilhas e fogueiras, festa da macarronada, do tango e do sapateado..).
Deverá constituir atividades dos
Cecco's a coordenação dos eventos
comemorativos relativos a semana de luta antimanicomial por
ocasião da comemoração do Dia Nacional de Luta 18 de maio - e a participação e
divulgação das atividades comemorativas a nível da cidade.
ALIMENTAÇÃO X
ATIVIDADES COM ALIMENTOS
Considerando-se o Cecco como um
espaço aberto que não responde a “guarda" de seus usuários, guarda
entendida como urna característica de rígida disciplinarização institucional,
visto que a permanência e continuidade do usuário pode ser, muitas das vezes,
determinada pelo interesse e desejo do mesmo;
Considerando-se a importância da
construção coletiva de experiências de convivência onde o processo de
conhecimento, produção, cuidado possa ser fruto de um confeccionar conjunto
entre usuários e técnicos;
Entendemos que a
questão da alimentação merece urna reflexão de seu papel neste
contexto.
Ao analisarmos a importância da
comida na vida das pessoas como expressão da própria sobrevivência,
identificamos a ligação do ato de alimentar-se ao ato de manter-se vivo, expressão
ultima de auto-cuidado, não necessariamente
auto-estima, mas inevitavelmente preservação de vida.
Num
"ritual" mecânico e diário de ingerir alguma coisa para saciar a fome
ou mesmo para cumprir, um horário determinado culturalmente, é mais difícil se
observar o processo do alimentar-se associado à convivência no agrupamento de
pessoas como observamos em grupos de colegas de trabalho ou de adolescentes que
se juntam para lanchar, para um café... e fazem daquele momento um verdadeiro
encontro de trocas, de manifestação de ideias, afeto e prazer.
A alimentação é a senha mais comum
e primitiva que favorece o agrupamento de pessoas e aproximações íntimas.
Entretanto também é a alimentação
um fator sinalizador das carências e das desigualdades sociais a que está
submetido um povo, por ser uma necessidade básica dos seres vivos, portanto acesso a ela constitui um direito de cidadania e
um pressuposto à vida.
Assim, pensar em alimentação num
espaço como o Cecco. onde a convivência entre os diferentes busca suscitar
questionamentos e reflexões sobre as desigualdades, sobre a cidadania e busca
acima de tudo favorecer a organização das pessoas e sua auto-estima, pressupõe
pensar a alimentação como um instrumento tri-disparador:
ü .
Disparador de reflexão do papel social que o não acesso ao alimento,
diversificado e de boa qualidade, representa para o desenvolvimento dos povos;
ü . Disparador de reflexão crítica sobre o manejo paternalista-assistencialista
utilizado pelas instituições, e suas consequências no comportamento e na
formação de opinião dos indivíduos;
ü . Disparador de "produção de auto-estima e
solidariedade", propiciando um exercício simples e original de cuidado
de si e do outro, reproduzindo, revivendo e recriando experiências
absolutamente comuns a todos os indivíduos.
Este jeito de olhar o ato da
alimentação nos remete a um cenário muito diferente do conhecido cenário
institucional assistencialista que apesar de necessário, resguardadas as
circunstâncias, a forma e o-momento histórico, aqui não está em avaliação de
mérito, pois efetivamente, em sua essência; colide com as intenções dos Cecco's
que deverão cuidar para direcionar e explicitar uma
construção-processual-crítica de alimentação muito mais enquanto atividade com
alimentos do que compromisso sistemático de prover refeições. Devendo tais
atividades se constituirem enquanto consequência, entre outras, de um dado
trabalho conjunto.
Assim caberá aos técnicos dos
Cecco's trabalharem junto aos usuários o valor das hortas e canteiros, desde a
descoberta da terra, o conhecimento de seu cio, do seu temperamento associado
ao tempo das estações, ao tempo do sol e da chuva.
Conhecendo a terra seu pulsar e
limitações, poder reconhecer nela e se aventurar enquanto transformador desta
mesma terra.
A responsabilidade
no cuidado, o acompanhamento no processo de mudança da semente, a tarefa
coletiva não taylorista na construção do produto final, serão elementos
essenciais à confecção de uma comida cujo sabor tenderá a ser muito singular; não pelo segredo de cozinha na "pitada
esperta" do sal, mas antes pela característica do contrato coletivo,
onde as diferenças associam-se em suas limitações e possibilidades
solidariamente efetivando uma produção.
Assim as hortas e os pequenos
canteiros poderão cumprir também este papel de auxiliador da alimentação nos
Cecco's.
Entendendo, entretanto, que este
cultivo é simbólico do processo de alimentar-se, posto que não será possível o
plantio de todos os ingredientes ou mesmo da maioria destes para a preparação
de uma sopa ou outro prato qualquer.
Portanto
deverá ocorrer previsão orçamentária onde se garanta a compra de alguns
ingredientes básicos que auxiliem na viabilização de uma sopa diária ou almoços
coletivos semanais, saladões, mexidos, sucos, chás, etc.
Vale ressaltar que tanto o plantio,
a colheita, a preparação do alimento e a transformação deste num dado
"prato" deverá ser a tarefa dos próprios usuários com a colaboração e
sob a orientação de técnicos da equipe do Cecco, a fim de poderem vivenciar a
formação da coisa viva, a sua transformação e a sua utilização para preservar
outras vidas, numa cadeia simples mas que exige dedicação, trabalho conjunto e
disponibilidade.
A horta é apenas um exemplo, apesar
de reconhecida e altamente facilitadora do processo descrito, assim como também
impulsionadora de outras aquisições onde esta experiência poderá ser
pré-requisito, como a formação futura de núcleos de trabalhos cooperados na
produção e venda de alimentos de cozinha alternativa, de hortas comunitárias,..
Entretanto onde não for possível o
desenvolvimento das hortas poderemos pensar na transformação de alguns produtos
básicos, em oficinas dirigidas preparando alimentos simples, visto que o
importante é a experiência em confeccionar processual e coletivamente alimentos,
símbolos concretos de sustentação de vida que proporcionem a vivência do cuidar
de si e de outrem.
Assim exemplarmente, apenas com a
existência de pães doados poderemos com alguns ingredientes mais e um forno de
barro transformá-los em bolinhos, pudim de pão, etc. Ou mesmo com
"todinho" de pacotinho e frutos servidos nos Centros Esportivos
transformá-los em chocolate quente de bule, salada de frutas, torta de frutas,
sorvete de chocolate ... Ou ainda promover almoços comunitários onde além do
que se produziu coletivamente possam se somar contribuições trazidas da casa de
cada usuário e funcionário, possibilitando um alimentar-se em conjunto, um
encontro comunitário.
Finalmente cabe ressaltar que não
será atribuição da unidade fornecer alimentação de forma sistemática e
assistencialista, portanto, não deverá ter em seu quadro de lotação de pessoal
cozinheiros ou auxiliares de cozinha. Não obstante deverá incluir em suas
listagens de recursos materiais permanente e de consumo: fogão, geladeira,
armários, pia, gás, panelas, utensílios, ingredientes alimentares
diferenciados, segundo a realidade de cada Cecco. Deverá ser viabilizada a
construção de forno de barro para a confecção não só de massas em geral (bolos,
pães,...) como de queima de barro para oficinas de argila, e outras.
REUNIÕES
REUNIÕES INTERNAS
REUNIÕES
DE EQUIPE - onde deverão ser planejadas e avaliadas as ações
gerais do Cecco, discutidas as relações de equipe, as dificuldades do trabalho,
aspectos pertinentes à população alvo; apontadas as propostas e mudanças a
serem encaminhadas a comissão gestora; discutidas questões técnicas,
distribuídas as tarefas: comunicados os informes do CTA distrital, dos
encaminhamentos da comissão gestora, informes gerais pertinentes, etc.
Deverão participar destas reuniões
semanais todos os profissionais do Cecco e de outras secretarias presentes no
dia a dia do serviço (por exemplo professores de SME, agentes culturais de SMC
desde que prestando serviços no Cecco). Poderão participar das reuniões os oficineiros
e os voluntários.
REUNIÕES
DA COMISSÃO GESTORA - onde deverão ser apreciadas as
propostas de planejamento da atividade do Cecco, as dificuldades rotineiras, de
relação intersecretarial; as demandas dos usuários, dos funcionários e da
administração, a fim de serem avaliadas e encaminhadas de forma deliberativa.
Deverão compor a Comissão Gestora
de forma paritária representantes da população usuária, dos funcionários, o
Coordenador do Cecco e representante de outras Secretarias Municipais ou
Movimentos Sociais que estejam ativamente participando da vida diária da
unidade.
REUNIÕES EXTERNAS
REUNIÕES
ADMINISTRATIVAS - a equipe ou um representante deverão
participar de reuniões administrativas convocadas pelo nível regional, local ou
central, desde que avisados com antecedência, por memorando ou ofício, caso
contrário deverá ser responsabilidade do coordenador avaliar e responder pela
saída de membros da equipe.
REUNIÕES
DOS GRUPOS DE TAREFAS - deverão ser incentivados Os espaços
de discussão e aprofundamento sobre o dia a dia de construção do projeto -
Cecco, através de grupos-tarefa, ou seja, encontros no nível central de
representantes de funcionários e coordenadores de todos os Cecco's sob a
coordenação de SMS, afim de estudarem, aprofundarem conceitos e através do
cotidiano irem trocando e estruturando melhor as ações nas cooperativas,
oficinas de convivência etc. Indica-se que estas ocorram quinzenalmente, na
forma de comissões de trabalho.
Como atribuição dos grupos tarefas
conjuntamente- com a comissão intersecretarial, fica indicada a realização de
Encontros Abertos anualmente para se discutir a realidade diária dos Cecco's,
cumprimento de metas, o impacto do serviço frente à Política Manicomial, a
coerência com os princípios teóricos, éticos, ideológicos do projeto no
cotidiano das atividades, a real apropriação e participação da população na
execução diária, o investimento do intersecretarial, etc. Os encontros deverão
ser organizados e abertos a vários segmentos: Funcionários de Saúde em geral,
Usuários dos diversos Serviços de Saúde Mental, Movimentos Sociais, Entidades,
Comunidade Científica, interessados em geral e o Governo Municipal.
As indicações de tais
Encontros-Seminários deverão em forma de relatórios subsidiar deliberações
sobre os rumos do Projeto.
FORUM DISTRITAL E/OU
REGIONAL - indica-se a necessidade de se investir
em reuniões quinzenais na forma de Fórum de Saúde Mental, aberto a todos os
profissionais de saúde interessados na questão mental, juntamente com o
segmento populacional representado nos Conselhos Gestores, a fim de discutirem
integração de serviços e ações, fundamentalmente viabilizando o processo de
referência e contra-referência, vital ao bom funcionamento do Cecco e a
consequentemente desmistificação de seu papel no Modelo Antimanicomial.
CURSOS,
SEMINÁRIOS, SUPERVISÕES - a participação em cursos,
palestras, seminários e supervisões visam o aperfeiçoamento do profissional e
portanto do trabalho que está sendo desenvolvido na unidade, devendo ser
oficializada a liberação pelo coordenador junto ao Distrito de Saúde sem
prejuízo do serviço.
POPULAÇÃO ALVO
"De perto ninguém é norma!"
Caetano Veloso
Compreendemos
por população alvo os segmentos populacionais com menores chances de vida,
vida "física e psíquica", nosso olhar deverá, portanto incidir sobre
as "chances" de manifestação de subjetividade, de autonomia, de
cidadania.
Alvo deverá significar tão somente
o nosso ponto de mira, nosso objeto primeiro e mais delicado, para onde deverão
convergir esforços, planejadamente.
Identificamos
que estes segmentos populacionais com menores chances têm sua identidade
marcada pelo estigma que marginaliza e segrega, anulando possibilidades de
convivência e troca, impedindo que a sociedade se incomode com estes seus
"produtos", como o são destacadamente os indivíduos acometidos de
transtorno mental, os portadores de deficiência, os idosos, as crianças e os
adolescentes de rua ...
Assim num lugar como o Centro de
Convivência e Cooperativa onde se pretende a aproximação e troca de pessoas
diferentes que possam reivindicar e conquistar chances de vida iguais, estes
segmentos da população deverão ter seu acesso mais do que facilitado, diríamos
garantido.
Caberá, portanto, ao corpo de
profissionais o constante trabalho de localizar esta população, proporcionar
fluxo dos serviços municipais, movimentos, entidades, a fim de convergir para a
convivência em espaços públicos os indivíduos propositadamente afastados do
convívio e depositados em clausuras domiciliares ou institucionais.
Não significa com isto que deverão,
por ser alvo, serem exclusivamente o único objeto de preocupação. Deverá
constituir preocupação fundamental Os usuários que correspondem ao segmento
populacional classificado como "normal", pois a dialética se fará aí
neste encontro dos dois tipos de segmentos populacionais: os tidos normais e
os desiguais para em esforço conjunto de convivência e cooperação, sob o
cuidado técnico, transformarem-se num único alvo - os diferentes -.
A equipe técnica atentará para
propiciar condições favoráveis ao acesso, a inserção e ao convívio destes
vários segmentos. Entretanto, sempre vigilante, à convivência dos
"diferentes" e não dos "iguais".
Iguais enquanto homogeneidade de
identidade firmada a partir do aspecto que justamente diferencia alguns
segmentos populacionais.de outros supostos normais, e portanto, "supostamente"
indiferenciados - pressuposto dos guetos.
Assim ao
observarmos agrupamentos por patologia ou condição: drogados, idosos,
deficientes, pobres, famintos, abandonados na rua, ... enquanto as senhas dos
agrupamentos promovidas pela organização do serviço, identificamos que estas
características qualitativa e ideologicamente funcionam como sinais de
marginalização para a exclusão de um dado convívio. Se consideradas tais
características como aspectos de vida percebemos que os indivíduos podem se
agrupar a partir de outras senhas, a tarefa, por exemplo, se agrupam
independente e apesar destas características “'marginalizadoras"; um
exercício de individuação.
Em outra vertente de homogeneidade
observamos a senha que aglutina utilizando o acesso aos privilégios, a bens e a
uma qualidade de inserção social - pressuposto da elitização.
Ambos os pressupostos sinalizados
atuam como fomentadores da cultura manicomial. ou seja, o caldo de valores e
pensamentos sociais vigentes que escorre instigando relações de diferenciação
pelo estigma e não pela idiossincrasia.
Portanto, não há de persistir
dúvidas quanto a definição de população alvo: compromisso de sensibilidade em
atrair e facilitar inserção responsável do que priorização na prestação de
serviço marginalizador e muitas vezes alienante.
Foram
os próprios movimentos organizados de pessoas portadoras de deficiências,
idosas, etc. que reivindicaram no processo da história atual a necessidade da
convivência dos diferentes em busca de um patamar de igualdades de direitos,
questionando e re-significando o conceito de normalidade.
Portanto, será de vital
importância, os Cecco's não se constituírem em espaços específicos ou exclusivos
de doentes, deficientes, marginalizados, mas antes e fundamentalmente em
espaços de encontros a partir das tarefas-facilitadoras, encontros promocionais
de uma verdadeira contra-cultura de convivência em novas consignias de relações
humanas.
AÇÃO TERAPÊUTICA X AÇÃO ASSISTENCIALISTA:
"Uma coisa perdurará, que é a
relação do homem com seus fantasmas, seu impossível. sua dor sem corpo, sua
carcaça noturna: e, uma vez colocado o patológico fora de circuito, a sombria
vinculação do homem à loucura será a lembrança intemporal de um mal
desaparecido em sua forma de doença, mas que sobrevive como infelicidade"
Michel Foucault
"Toda espécie
de amor é um descanso para a loucura"
Guimarães Rosa
Há que se inscrever "a
lei" enquanto função que localize o "homem" dentro de seus
limites de expressão de si, enquanto sujeito coletivo.
Haverá um tempo em que a função de
dar voz e significado ao código interno "inconsciente" não será mais
atribuição dos "facilitadores-exclusivos" que podemos denominar os
"pensadores de dentro" (psis), mas certamente o mundo poderá se
instrumentalizar em seu cotidiano-relacional para fazê-lo de maneiras diversas
e inventivas na busca maior de um resignificado de papéis, sentimentos,
impressões e manifestações de subjetividades.
Como aponta Guatarri, a
ressingularização que carece de instrumentais também singulares, apesar do
arcabouço técnico-teórico indispensáveis, se processará independente dos aventais
brancos, ou seja, independente de um modelo médico de compreensão e abordagem
do fenômeno: sofrimento mental.
Somos convidados, pois, a um
exercício reflexivo com o projeto Centro de Convivência e Cooperativa em que
condiciona aos que se lançam a ele, um desvencilhar de preconceitos e de
proposição técnicas cristalizadas na abordagem do sofrimento humano.
Assim:
Em não se tratando de um serviço de
encontros "free-lance", descompromissados em lazer contemplativo e
absorto;
Em não se tratando de mais um
exemplar de depósito de discriminados, em massas homogêneas, pelos suas desqualificações;
Em não se tratando de um serviço
que vise explorar intencional e demagogicamente a produção do "tido
desqualificado" para exibi-la como o "fruto belo do
ventre-lixo";
Em não se tratando de uma versão maquiada e modernizada de
instituição de guarda e assistencialista desenvolvida em espaços manicomiais,
marcados pela violência da disciplinarização vigiada;
Em não se tratando de invenção de
serviço para garantia de emprego a "malabaristas “-profissionais
comprometidos com a lógica hegemônica de centralização de poder e autonomia
estritamente técnica;
Em não se tratando de aventura
experimental em negar o saber técnico e a responsabilidade do serviço público
de saúde referenciado, sobre a saúde dos indivíduos;
Em
não se tratando de descientificizar a ação terapêutica inscrita em novo setting;
Em não se tratando de mitificar ou
converter em espaços mágicos a possibilidade resultante de transformação das
chances de vida dos indivíduos marginalizados;
Em
não se tratando de concorrer setorialmente à autoria da reinvenção de novas
formas de fazer saúde;
Vamos identificando oportunamente,
após afirmativas elencadas, um contorno simples e bastante original que indica
ao Centro de Convivência e Cooperativa o papel de colaborador diferenciado no
processo terapêutico dos que sofrem psiquicamente e dos que sofrem pela
condição de estigmatizado. A terapêutica neste contexto se inscreve sob outro
contrato, que se distancia do usualmente padronizado, tanto pela formação
acadêmica quanto pela prática profissional privada e a sua fiel reprodução nos
espaços de saúde pública.
As
senhas que introduzem os profissionais neste lugar "desprotegido" de
divã, sala de espera, distanciamento pessoal, cartões de retorno, tempos
cronometrados, portas-fechadas, são senhas antigas e conhecidas que de original
trazem tão somente o instrumental que utilizam para se manifestarem,
pressupondo em contrapartida, interlocutores munidos de uma nova visão da
prática terapêutica frente ao sofrimento psíquico.
Tais senhas
deverão localizar-se no Cecco já a partir da dinâmica de relações onde a
escuta, a entrada, proporcionem o acolhimento do outro e cuidem para que o
afeto e a confiança processem o vínculo sob novos dispositivos contratuais,
valendo-se de cenários privilegiados e comuns como as oficinas, facilitadoras
de coletivização e individuação.
A leitura da
fala do desejo deverá se dar associada a outras falas, corno as linguagens
variadas nas oficinas-atividades, assim, longe de ser uma
"laborterapia" o que deverá se processar é a terapêutica da vivência
do "se relacionar", mesmo que esta se faça intermediado por urna ação
que poderá ser dançar, pintar, cantar ou mesmo caminhar e apreciar um por do
sol. Há de se considerar também o histórico vivencial asilar, institucionalizado
ou não em cada indivíduo, a fim de que o rendimento da
intervenção terapêutica possa proporcionar ao usuário do Cecco a internalização
de vivências novas, de contato com os desejos próprios e alheios, e a
reeducação para novos hábitos e desempenhos sociais.
Assim o que,observamos, na ação dos
profissionais, é o surgimento de um novo postulado: a ação
terapêutica-educativa, por sua intensidade e ampla abrangência junto à vida
psíquica, a visão de mundo e ao desempenho de um novo papel social dos então
marginalizados-segregados, e dos coadjuvantes-parceiros deste processo os
"tidos normais', numa clara ação pedagógica.
O terapêutico enquanto setting no
Cecco, entretanto, deverá se diluir para além da oficina (tarefa circunscrita),
se pretende manifesto desde a mais simples e primária vivência de circular
neste espaço, de conviver com suas normas construídas conjuntamente, de se
misturar em ações rotineiras e comuns como comemoração de aniversário, tomar um
lanche, ir ao cinema ... sendo que nas oficinas, pela característica da
problematização de questões e ações, toda retaguarda a. dificuldades no
relacionamento, inadaptação ou conflito, deverão ser objetos da ação
profissional-técnica.
Será no
encontro do indivíduo consigo mesmo em seus ensaios de singularização. No
encontro com o outro explicitamente diferente, que deverá residir à essência do
terapêutico, promovendo um sentir e um pensar resignificados num processo
verdadeiramente Terapêutico-Anárquico, por não se constituir enquanto
psico, ocupacional, fono ... terapias em seus paradigmas mais convencionais.
A fim de
sintonizar coerentemente com a proposição da determinação social do sofrimento
psíquico, uma prerrogativa que não constitui privilégio dos acometidos por
transtorno mental, toda ação verdadeiramente terapêutica deverá ser antes não
alienante, não encerrada na leitura unilateral da fala dos desejos, dos objetos
internos ..., mas alçar também para a leitura do "fora"
problematizando o lugar e o papel social de cada um, marginalizado ou não, e de
um determinado grupo.
Entretanto apesar do leque de ações
e cobertura atribuídas ao Cecco, sua vocação é essencialmente de Fomentador de
Saúde. Seu objeto é a vida, a chance e a diversidade de manifestação desta, a
qualidade desta vida em movimento e em interação com outras tantas expressões
de vida.
Ter a vida por
objeto primeiro significa muito mais do que a preservação desta, comumente
exemplificada na ausência da doença ou da assistência à doença, mas antes e
fundamentalmente é a qualidade desta vida o que está em cena em suas
características mais diversas, desde o acesso a bens, a cultura, a educação, ao
trabalho, a convivência, a história... até o direito de cada indivíduo se
exercitar sujeito de seu próprio "destino", patamar máximo de respeito
a vida, o direito de cidadania, uma espécie "rara" de saúde.
Se
avançarmos na direção do concreto cotidiano do serviço poderemos nos deparar
com situações que inspiram um tipo de assistência não à doença, mas de proteção
à vida, esta mesma vida protagonista primeira do Cecco.
Trocando em
miúdos será comum até como parte, esteriotipada ou não, da identidade do
estigmatizado-segregado, se apresentarem ao convívio acompanhados de diferentes
"elementos", que por sua concretude e sinal absoluto de "miséria
e risco", introduz não só a possibilidade de reflexão acerca de seu significado simbólico ou não, na ordem da
auto-estima, de expressão de abandono e animalização ... mas inevitavelmente
introduz o risco real de convivência pelas características concretas não
subjetivas, impeditivas ao franco convívio humano.
Assim o usuário da
população alvo, principalmente, que se apresenta
(por exemplo)
com piolhos, unhas compridas e sujas ... e de certa forma provoca no grupo reações
de afastamento, comunica uma mensagem que precisa ser decodificada e não
psicologizada ou negada, desde dificuldade concreta de cuidado, até dificuldade
da ordem da auto-estima.
Entretanto
seja no nível do grupo de usuários, seja no nível do corpo técnico as ações
deverão ser tão concretas quanto à situação exemplificada.
ü Como
realizar tal ação sem perder o caráter terapêutico-educativo e sem recair na
caracterização assistencialista?
A opção poderá
ser de transformar as ações em atividades onde a tarefa focal possa ser, por
exemplo, o cortar a unha, o limpar os cabelos, o escovar os dentes, ... o
cuidado de si e do outro, na forma de oficina que discuta estas questões em
suas necessidades, dificuldades e significados onde todos participem inclusive os profissionais técnicos; e/ou
ainda a opção poderá ser dos profissionais do Cecco investigarem e proporem
intervenções da própria família, problematizando a questão com eles no espaço
do Cecco ou no domicílio.
Outra situação exemplar e também
impeditiva de convívio numa outra ordem, poderá ser descrita pela necessidade
de:
(por exemplo)
viabilizar a feitura de carteira de identidade, companhia para ir ao banco receber
direitos, para ir ao tratamento na UBS, dar encaminhamento a questões judiciais,
participar do Coral-Cênico da Saúde Mental, conseguir vaga em escola pública
regular...
Além de surgirem
muitos elementos de análise e compreensão da dinâmica de vida do indivíduo ou
grupo de indivíduos, sem sombra de dúvidas, deverá constituir papel do Cecco e
consequentemente da equipe de profissionais, a facilitação destas conquistas
tanto na localização de soluções fora do Cecco e portanto devendo informá-las,
quanto na disponibilidade do profissional do Cecco em desempenhar o papel deste
acompanhante qualificado "provisório", também facilitador de
uma conquista - das mais singulares, de autonomia e poder contratual.
O importante a
ser frisado é que tanto no primeiro quanto no segundo exemplo descrito acima
toda ação deverá estar revestida de valor terapêutico-educativo tanto para os
usuários quanto particularmente para os profissionais, ou seja,
problematizá-las e, preferencialmente de forma coletiva, buscar resposta no
próprio grupo de convívio e no seio da família, quando houver.
Assim, mesmo
tendo como atribuição no papel dos profissionais ações aparentemente
assistencialistas e desqualificadas pela não especificidade técnica, estas
assumem o caráter de senhas reais de defesa crítica da vida, que reinventem um
modo de fazer saúde, fomentando o exercício de cidadania.
Entendendo o
fluxo de referência e contra-referência no modelo de atenção à saúde mental,
vale ressaltar que apesar das vocações complementares e não nivelares dos
vários serviços, deve-se observar os princípios de equidade, universalidade,
integralidade e regionalização nas ações, porém, quanto ao princípio da
hierarquização não será aplicado à saúde mental. Pois bem, isto deverá
significar que o fenômeno sofrimento mental nas formas mais variadas que se
apresente carece de abordagens que considerem o valor terapêutico do vínculo, vínculo-referência
a pessoas, local, experiências.
Consequentemente, no que diz
respeito ao cecco, mesmo em momentos de crises, surto, delírios, uma outra
conduta deve entrar em cena que não a burocracia do encaminhamento e a
aplicação cindida e automática de um modelo de fluxo tomado ao avesso e
rigidamente, desarticulado de afeto e de avaliação prognostica
relacional-circunstancial.
Assim sendo,
muitas serão as vezes que deverá constituir ação dos diversos serviços de saúde
mental e particularmente do Cecco, o suporte, a continência técnica-afetiva à
situação de sofrimento extremo, a orientação familiar, e/ou acompanhamento
individual enquanto facilitador de participação, ocorrendo em nome de uma
compreensão mais dialética do sentido do terapêutico e do assistencial, do
fluxo, da referência e contra-referência da atribuição vocacional de cada
serviço de atenção ... , instrumentais a serviço do bem estar do homem e não o
contrário.
Deve-se,
portanto relativizar preposições através do bom senso, da responsabilidade
coletiva e do exercitar miúdo e diário de um, também, novo feeling terapêutico.
EQUIPE
MULTIPROFISSIONAL NO CECCO
(Um Ensaio a Transdisciplinariedade)
(Um Ensaio a Transdisciplinariedade)
A
utopia que perseguimos com o projeto Centro de Convivência e Cooperativa é
basicamente a conquista de uma nova qualidade nas relações entre os seres
vivos, relações que possam estar marcadas pela expressão dos desejos e a
disponibilidade em se "empatizar" com o outro em suas singularidades
e diferenças.
Este tipo de
conquista deverá, quiçá um dia, não carecer de corpo técnico especializado para
facilitar, nada mais nada menos, do que um patamar simples, original e pouco
difundido entre os "homens" que é a predisposição à fraternidade, ao
encontro crítico consigo e com o mundo, a uma espécie de convivência não
alienada e não discriminadora.
Entretanto consolidar esta
conquista pressupõe processo lento e trabalhoso onde um corpo técnico
especializado ocupa papel de indiscutível e indispensável valor.
Na mesma
medida da necessidade deste corpo profissional, polariza-se um outro ponto de
valor que é a especificidade e as armadilhas que esta representa, pela
trajetória histórica que as disciplinas "do humano", preocupadas com
a leitura das falas do mundo, travam com a ciência afim de se legitimarem; e
neste vão de insensibilidade na percepção da vida acabam, por vezes, se
prostituindo frente a história.
Mas deverá se apostar e investir na
contribuição e na constante reciclagem dos multiprofissionais imprescindíveis a
uma reformulação da saúde pública e no resgate da seriedade e resolutividade
desta.
Assim, uma equipe básica de
profissionais de categorias diversas, não médica, pela vocação mais promotora
de saúde dos Cecco's, deverá atuar integradamente revendo posturas básicas que
a academia postulou.
Não se realizarão
contratos para psicoterapias, terapias ocupacionais, terapia fonoaudiológica
... mas antes e fundamentalmente a partir do singular de cada um destes lugares
(de construção de conhecimentos) se desenhará um novo lugar de construção de
conhecimento onde as diferentes contribuições específicas se consorciem em
torno de um mesmo objeto: "a vida em convivência e em cooperação com
suas multi-caras". Superar um modelo de relações e trabalho comumente vertical e
compartimentalizado, constituirá adubo necessário a construção de uma
transdisciplinariedade, ou seja, analogamente a convivência dos diferentes no
Cecco, a conjunção de vários e diferentes saberes produzindo cooperadamente um
novo saber.
Não constitui opção aleatória a
composição da equipe técnica profissional deste
projeto, entretanto, não podemos deixar de admitir que tais categorias não são
exclusivas ou insubstituíveis. Não se faz necessária uma aventura na
argumentação do porque não outras categorias profissionais, exercício insólito,
mas sim na argumentação objetiva e básica do porque estas categorias.
Dentro do quadro da saúde as
disciplinas que por excelência trabalham o indivíduo enquanto ser social em
relação consigo (objetos internos, desejos) e em relação com o mundo
(sociedade, direitos, trabalho, educação, comunicação, relações
interpessoais...), foram convidadas a compor o quadro do Cecco a fim de
contribuírem para a leitura e ação sobre o fenômeno do sofrimento psíquico, do
sofrimento humano.
Adequando instrumentais, revendo
abordagens, setting ... cada
especificidade deverá contar fundamentalmente com a sensibilidade individual de
cada profissional e a disposição em se alterar como pessoa a partir de um
patamar de conhecimento e acúmulo reconhecidos e valorizados.
Assim num campo como o Cecco onde
as diversas linguagens são as senhas facilitadoras na subjetivação de relações
e trocas que ousam questionar, em exercício de análise e síntese, conceitos e
preposições pré-estabelecidas na direção da autonomia e da reinserção no mundo
do trabalho construindo poder de barganha .... não é difícil se tecer
exemplarmente uma Liga:
ü Entre
o fonoaudiólogo e a sensibilidade junto à consígnia dada pela fala concreta, da
comunicação. do cantar e se identificar com os sons que contam e reorientam histórias,
posturas e relações...;
ü Entre
o psicólogo e a sensibilidade junto à consígnia dada pela fala do desejo, do
subjetivo entremeando relações, do diferente e o estigma, indicando hiatos na
convivência a serem amparados e lidos...;
ü Entre
o terapeuta ocupacional e a sensibilidade junto a consígnia dada pela fala
construída de elementos históricos e internos manifesta na ação produtiva
individual e coletiva de caráter crítico-questionador ...;
ü Entre
o assistente social e a sensibilidade junto a consígnia dada pela fala do fora,
do acesso a informação de direitos e deveres, do acesso a uma compreensão
crítica de um mundo normativo em movimento ...;
ü Entre
o educador em saúde pública e a sensibilidade junto a consígnia dada pela fala
de uma produção de sofrimento humano,
entrelaçando cadeias explicativas que introduzam a determinação social do dado
sofrimento e as suas brechas de transformação ...
Este exercício
em identificar as Ligas é puramente
didático, estático e exemplar, visto que a dinâmica deverá ser em movimento
espiral e como tal, muitos trocarão de lugar com outros e se surpreenderão em
ações novas, porém, revestidas de um referencial interno e de (armação
peculiares.
Caberá aos
outros profissionais de apoio técnico: auxiliar de enfermagem, vigia, auxiliar
administrativo da saúde, serventes ... a possibilidade também de reciclarem e
se arriscarem neste espaço diferenciado de trabalho como colaboradores deste
processo de re-significado das relações
OFICINEIROS E
VOLUNTÁRIOS: o intersecretarial deverá tornar
realidade a entrada destes novos e importantíssimos personagens que trarão
efetivamente fôlego a intervenção dos pensadores-leitores
do fenómeno humano (corpo técnico), e se agregarão na construção da
transdisciplinariedade.
Caberá a estes
profissionais também um repensar de suas práticas enquanto programáticas,
avaliativas a avançarem para práticas fomentadoras de vivências livres que
estimulem o despertar de repertórios não padronizados e referenciados,
particularmente, em critérios individuais próprios, relativizando valores
maniqueístas e não facilitadores de ressubjetivação corno o feio e o bonito, o
certo e o errado, o bom e o ruim...
Assim, estes
obreiros da arte, da música, da dança, do plantio, do esporte, da literatura,
do tear, do teatro ... trarão ao alcance de todos a senha específica, em forma
de linguagem solta, de instrumentais valiosos e caros a um garimpo processual:
de se fazer criativo, de se fazer singular, coordenando oficinas temáticas sob
o princípio da convivência, contando com o apoio do corpo técnico especializado
e captando a "arte" popular-local, afim de transportá-la para a
atividade da oficina, num processo de valorização do referencial do outro e de
despertar de novas vocações e potencialidades.
Portanto
contar com estes personagens-profissionais no trabalho diário do Cecco,
impulsiona a otimização do papel da equipe técnica no trato mais subjetivo da
qualidade da convivência nas atividades em geral; e traz escarradamente a
beleza cia diversidade: trampolim disparador de vivências arriscadas, pelo
"generoso" grau de liberdade na direção da (re)invenção.
PARTICIPAÇÃO POPULAR
(O controle social através do
co-gerenciamento)
"O
verdadeiro Poder segreda, em sua essência, o hábil exercício da parceria e da
relativização"
I. C. L
O pressuposto
básico para a definição das atividades a serem organizadas e propostas pelo
Cecco é o planejamento e a avaliação conjunta entre as secretarias existentes
no local (podendo ser diferente a composição em cada Cecco), a representação dos
funcionários e a população usuária organizada. Compondo assim o Conselho
Gestor.
Sinal
expressivo de democracia, coerência com as deliberações das Conferências de
Saúde e compromisso com urna forma descentralizada e popular de administrar o
bem público, é o investimento aberto nas formas de Conselhos Gestores
Tripartites.
Nos Conselhos
Gestores Tripartites a paridade e a identidade deliberativa, acerca do
planejamento, segundo características territoriais, encaminhamentos e
avaliação, configuram o contorno necessário à viabilidade do controle social
sobre o serviço público.
Logo, deverá
constituir prioridade por parte dos Cecco's, com a assessoria distrital, a
formação dos Conselhos Gestores observando a paridade e a singularidade deste
serviço onde as três partes: Administração, Funcionários e Usuários apareçam de
forma pluralista, ou seja, pela natureza intersecretarial, tanto administração
quanto funcionários possam vir de vários setores-secretarias diferentes, e
mesmo o segmento usuário, por sua característica múltipla, pela expressiva
participação de movimentos organizados, como meta, enquanto
"usuários" dos Cecco's além dos individualmente representados.
Portanto,
caberá em cada unidade a avaliação de seu perfil e a partir daí a adequação
qualitativa na composição do Conselho.
Indicamos que pela importância da participação do
segmento organizado: movimentos sociais, de entidades, outros, se realizem
periodicamente (trimestral ou semestralmente) plenárias abertas que possam
discutir as mesmas questões de relevância do Conselho Gestor, afim de:
ü - viabilizarem um canal legítimo de participação de
segmentos tão variados;
ü - subsidiarem a própria discussão do Conselho Gestor na
qualidade de indicadores de propostas.
O modelo
adotado enquanto composição tripartite-paritária pela PMSP respeita o
deliberado pelas Conferências Municipal e Nacional de Saúde a saber:
Administração................................................................
|
25%
|
Funcionários...................................................................
|
25%
|
Usuários..........................................................................
|
50%
|
ATRIBUIÇÕES DAS
VÁRIAS SECRETARIAS
AUTARQUIAS, EMPRESAS ... MUNICIPAIS NOS CECCO'S
AUTARQUIAS, EMPRESAS ... MUNICIPAIS NOS CECCO'S
A viabilidade
da abrangência do serviço que o Centro de Convivência e Cooperativa propõe está
intrinsecamente ligada a ação conjunta de natureza singularmente
intersecretarial, pelo pioneirismo da ação, que requer atribuições
diferenciadas e explicitadas na vontade política e na previsão orçamentária de
cada setor.
O Grupo de
Trabalho Centro de Convivência e Cooperativa, o Colegiado de Saúde Mental e o
CTA da Secretaria Municipal de Saúde acatam o deliberado pelo relatório do
Grupo de Trabalho Intersecretarial: Cultura, Cidadania e Saúde Mental que
discorre, entre outras coisas, as atribuições de cada segmento municipal em
relação à viabilização Intersecretarial do serviço Centro de Convivência e
Cooperativa, condição que visa assegurar as ações cotidianas do projeto (vide
Relatório em anexo).
METAS E PERCENTUAIS INDICATIVOS PARA O FUNCIONAMENTO DOS
CENTROS DE CONVIVÊNCIA E COOPERATIVA
Composição da
Equipe:
02 (dois) Psicólogos
02 (dois) Terapeutas Ocupacionais
02 (dois) Assistentes Sociais
0l (um) Fonoaudiólogo
01 (um) Educador em Saúde Pública.
01 (um) Coordenador (nível universitário)
Totalizando 09
(nove) Profissionais Técnicos em sua maioria com jornada de 40 horas/semanais
02 (dois) Auxiliares Administrativos da Saúde
01 (um) Atendente ou Auxiliar de Enfermagem
02 (dois) Serventes
02 (dois) Vigias
Obs.: Como .uma conquista técnica da própria categoria foi
contemplado a nível de composição de equipe 01. (um) Educador em Saúde Pública
para cada Cecco com jornada de trabalho de 20 horas/semanais.
ATIVIDADES INTERNAS
70%
- das atividades deverão ser internas ao Cecco
Indicações de distribuição:
45%
- coordenação ou acompanhamento de oficinas, cooperativas, atividades dirigidas
e não dirigidas (vídeo, brinquedoteca, biblioteca ou cantinho de leitura,
abordagens livres)
25% - atividades de rotina eventuais: - recepção e
acolhida;
ü Entrevistas;
ü "atendimentos" individuais ou familiares -
plenárias de usuários
ü Almoço comunitário -festas
ü palestras
ü reuniões internas
Taxa Percentual - indicativa de
distribuição de usuários por oficina/atividades dirigidas:
População Alvo
- compor 50% das oficinas/atividades
Indicação de distribuição a fim de
se privilegiar os acometidos de transtorno mental:
30%
- Portadores de Transtorno Mental (P.T.M.)
20%
- Idosos, Crianças e Adolescentes de rua, Portador de Deficiência, Portador de
Necessidades Especiais (I./CR/AR/PD/PNE)
50% - População Geral
Exemplo da média por atividade:
Oficina com 20 (vinte) participantes:
06 (seis) P.T.M.
04 (quatro) outros da População Alvo
10 (dez) População Geral
Importante ressaltar que é
aproximadamente (=), pois a realidade local-territorial, o processo de
implantação e fundamentalmente a sedimentação de uma nova cultura
antimanicomial:
ü - tanto nos serviços - expressas no sucesso de uma rede de
referência e contra referência
ü
- tanto na comunidade - expressas na
qualidade e intensidade de apropriação da coisa pública e do acesso para
exercício de cidadania de usuários em geral (população alvo ou não) no Cecco;
Sinais de compreensão e convencimento de
novas senhas para o relacionamento humano e cuidado da saúde, independente de
taxações fixas normativas.
Sem dúvida, constituirá fruto de
longo processo de trabalho, imprescindível criativo. intenso, dedicado, e não
discriminador, de um corpo técnico articulado a outros profissionais e
segmentos populacionais.
Portanto esta
indicação em taxa percentual é puramente aproximativa, pois acima de tudo
pretende ser um termômetro para garantia de não guetos (apenas doentes, ou
acometidos de transtorno mental ou apenas população geral principalmente na
composição das oficinas), e não constituir camisa-de-força normativa, um
contrasenso aos princípios do próprio projeto Cecco.
ATIVIDADES EXTERNAS
30%
das atividades deverão ser externas ao Cecco. Indicações de distribuição:
20%
- Atividades com movimentos sociais e populares, entidades em geral, instituições
de saúde, reuniões administrativas, grupos de tarefa, fóruns.
5% - Visitas e Ações Domiciliares
5%
- Passeios ou Atividades Externas de Socialização (pic-nic, zoo, cinema,
teatro, feira andar de ônibus, mercado,
visitas a outros Cecco's, bibliotecas, etc).
OFICINAS E
NÚCLEOS DE TRABALHO - COOPERATIVAS
Caracterização
em Estimativa (frequência, duração, atribuição, participação) 20 (vinte)
oficinas por semana:
Sendo:
04 - (quatro) oficinas por dia (24 à 6a feira)
08 - (oito) oficineiros por semana,
sendo que cada oficineiro poderá desenvolver 02 oficinas por semana sobre a
mesma temática, de preferência.
05
- (cinco) Núcleos de Trabalho - Cooperativas (proposta de serem cinco núcleos
diferentes com temáticas também variadas, com frequência a ser definida pelo
grupo interessado. Poderá ter frequência diária).
Média de
duração das Oficinas:
02 (duas) horas de execução
01 (uma) hora para planejamento e registro/semanal
Média de
duração dos Núcleos de Trabalho-Cooperativas:
03 (três) horas de execução
01 (uma) hora para relatório e discussão/diária
Média
de acompanhamento ou coordenação de Oficinas e/ou Núcleos de
Trabalho-Cooperativas por profissional universitário:
05 (cinco) por semana
Média de participantes por Oficina:
20 (vinte) participantes
Média de participantes por Núcleo
de Trabalho-Cooperativa: 15 (quinze) participantes
Será atribuição do corpo técnico
acompanhar todas as oficinas na qualidade de coordenação ou de co-coordenação,
quando da existência de oficineiro-coordenador. Este corpo especializado de
profissionais terá a clara atribuição técnica de leitor-interventor-facilitador
da convivência dos diferentes, cuidando para que a tarefa não se esvazie de
significado, perpetuando alienação. Assim como, não obstante, deverá atentar,
para quando da necessidade, de ação específica junto à dinâmicas geradoras de
sofrimento individual ou coletivo no grupo e efetuar intervenção direta ou
indireta.
As oficinas deverão ser realizadas
em duplas (técnico/oficineiro, técnico/técnico, técnico/voluntário).
As atividades ordinárias ocorrerão de 2ª a 6ª feira, na maior parte dos locais, em períodos de
08 (oito) horas diárias. Deverão ser
organizados plantões, com cada 3 (três) profissionais. Por sábado ou domingo, 1
vez por mês.
Cada profissional deverá se dispor
a um "plantão-final de semana" de 06 (seis) horas/bimensais,
entretanto estes plantões deverão ocorrer com planejamento e em consonância com
a característica e realidade local que justifique a importância deste
investimento.
Atividades extraordinárias poderão
ser propostas respeitando-se o mesmo princípio anterior de necessidade
local-territorial associada a possibilidade e interesse do Cecco.
Média de Plantões de Recepção-Acollhida:
Contando
com a equipe de 08 (oito) técnicos, excluindo o coordenador, cada técnico
deverá ter em média 05 (cinco) plantões/mensais (manhã e/ou tarde).
Média de Passeios ou Atividades
Externas de Socialização:
01
(um) mensal
Média de Visitas-Ações
Domiciliares:
04 (quatro) ao mês (deverá ser realizada
por uma dupla de profissionais. considerando a equipe de 09 (nove)
profissionais).
Média de reuniões:
Reunião
de Equipe: 01 semanal/4 horas duração Reunião de Planejamento: 01 quinzenal/2
horas duração Reunião de Supervisão - 01 quinzenal/3 horas duração
Divisão de Atividades em horas
semanais por profissional universitário
Carga
horária calculada por profissional - (40 horas/semanais)
15
(quinze) horas - oficinas e núcleos de trabalho - cooperativa
04
(quatro) horas - recepção - acolhida e entrevista
05
(cinco) horas - atividades dirigidas, não dirigidas e eventuais.
03
(três) horas - atividades com movimentos sociais, instituições em geral, unidades de saúde.
02
(duas) horas - passeios ou atividades externas de socialização
01
(uma) hora - visitas e ações domiciliares
10
(dez) horas - reuniões internas e externas, supervisão e cursos.
Portanto deverá responder ao
seguinte parâmetro indicativo percentual:
24
(vinte e quatro) horas atividade interna
|
60%
|
06
(seis) horas atividade externa
|
15%
|
10
(dez) horas reunião/supervisão/curso
|
25%
|
Metas em Estimativas de
"Potenciais" a serem construídos
(porém condicionados a investimentos em Recursos
Materiais, Humanos e Espaço Físico)
ü Estima-se
a capacidade "potencial de absorção", aproximadamente de 120
pessoas/dia utilizando o Cecco.
ü Pesquisamos
e avaliamos que a média estimada de "potencial na frequência" do
mesmo usuário seja de 04 (quatro) horas/diária em 03 (três) vezes por semana.
Os usuários podem utilizar o Cecco todos os dias, pelo
período que desejar.
O Cecco deverá estar aberto com
atividades diariamente, não justificando seu fechamento para fins de reuniões
de rotina (por exemplo).
A coordenação da Unidade e a equipe
deverão se organizar a fim de, na ocorrência de reuniões que envolvam muitos
componentes do Cecco, viabilizarem rodízio ou outro recurso que possibilite a
continuidade do serviço prestado à população, com qualidade.
QUALIDADE DE VIDA E A CONSTRUÇÃO DE UMA ECOLOGIA DA
SUBJETIVIDADE (A Utopia do Cecco)
"A Felicidade morava tão vizinha que de tolo até
pensei que fosse minha"
Chico Buarque
" Nada a temer senão o correr da
luta nada a fazer senão esquecer o medo abrir o peito a força de uma procura
fugir as armadilhas da mata escura ... Vou descobrir o que me faz sentir eu
caçador de mim"
Milton Nascimento
A vida aqui protagonizada é a vida
plena em suas manifestações mais diversas, num encontro de olhares, sons,
movimentos, projetos, cheiros ... uma espécie de "natureza".
A "natureza" do
humano, a "natureza" do animal, a "natureza" da natureza. Naturezas
que deixam de ser naturais (pré-determinadas e homogêneas) para se
singularizarem diferenciadas em confronto direto com o Estabelecido.
Esta
preposição de reinventar o olhar comumente lançado sobre o "conhecido-estabelecido"
concorre para uma apropriação histórica do mundo e de si, e neste apropriar
reorientar papéis e verdades a partir de referenciais outros, mais individuais
e coletivos, pela dialética da ação, sinal inquestionável de qualidade de vida.
Portanto como
manifesto de afronto aos métodos coercitivos, medicalizantes e segregadores o
Centro de Convivência e Cooperativa vem de um lado possibilitar esta idiossincrasia
- sinal de criatividade e individualidade, e de outro possibilitar a coletivização
organizada na conquista de saberes e de poder capaz de barganhar com o
mundo sua própria transformação.
Uma delicada
e fina costura que dá Liga e Substrato ao surgimento de uma Ecologia da
Subjetividade, que encadeada em espiral dinâmica vai operando sobre os desejos,
convívio e produções; Criando uma atmosfera de cumplicidade entre todos os
"tecelões desta imensa teia qualificada pelo respeito à vida; na busca de
promover aos indivíduos o encontro desalienado “do que se é e de tudo que se
pode ser".
Assim há que se explicitar e
valorizar Os mais tímidos sinais de subversão de uma ordem disciplinadora de
energia libidinal, de energia criadora, mantenedora de um status quo.
O que dizer de uma
subjetividade manifestada e processada na vida de indivíduos que mesmo que
temporariamente trocam:
ü
- o efeito alucinógeno de uma droga como
a cola, o esmalte, o craque, pela atividade de em conjunto constituírem outras
viagens com pipas, bonecos, teatro, malabarismos ... se aventurando a um
autorizar-se de resgate de infância, de releitura da própria trajetória-histórica-pessoal,
de dribles com a sorte para garantia de vida.
ü
- a condição de descartáveis humanos, na
suposta improdutividade, nos moldes produtivos do capital, pela chance
auto-concedida de produtores-criativos de ações adormecidas, vitais a outros
indivíduos, gerando as cadeias complementares, (por exemplo através de: rodas
de contos de história/coral), possibilitando manifestação de desejos e
potencialidades
Tantos poderiam
ser, exemplarmente, os sinais concretos de construção desta tão perseguida
qualidade de vida, onde o prazer de conduzir os desejos de construção de uma
"espécie" de felicidade própria em conjunto com outras espécies de
felicidades alheias possam eleger a fantasia como parceira não alienígena mas
antes indicadora de singularidade, sob a égide da liberdade e da solidariedade.
Um sinalizador
muito caro e de valor histórico ao processo de elaboração deste arcabouço
teórico-prático do sentido da convivência cooperada, foi o nascimento do CORAL
-CÊNICO DA SAÚDE MENTAL. Um ensaio intersecretarial, um ensaio acima de tudo de
intersubjetividades que a essência do projeto diário-concretizado
dos centros de convivência e cooperativas impulsionaram a partir de ideias
ousadas e solitárias que consorciadas germinassem um exemplar de Cooperativa de
Arte. Onde a beleza e a sonoridade ocupam partituras e cenários muito
primitivos por sua característica comum e emocionantemente surpreendentes por
sua singularidade em reinventar o agradável talvez uma espécie também comum de
utopia e, consequentemente, de uma "espécie" de qualidade de vida.
RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO
INTERSECRETARIAL SOBRE CULTURA, CIDADANIA E SAÚDE MENTAL
(Referente a1ª Parte do G.T. - Centro de Convivência e
Cooperativa) JUSTIFICATIVA (Análise e Considerações)
PROPOSTA DE UM
PROJETO DE LEI-CECCO (Texto e Anexos)
CENTRO DE CONVIVÊNCIA E COOPERATIVA
JUSTIFICATIVA
Entendendo a questão da Saúde
Mental num prisma mais globalizante, identificamos como cenário privilegiado de
determinação do sofrimento mental, as más condições de vida e de trabalho, a
teia de relações que se estabelecem culturalmente na promoção da discriminação,
da desvalorização da expressão de subjetividade dos indivíduos, na valorização
da relação de castas e perpetuação de desigualdades, e desestímulo à produção
coletiva.
Observamos a difusão dos
pressupostos das instituições totais, presentes na matriz de sustentação das
instituições em geral, como "norteadores mor" de um processo de
institucionalização, ou seja, impeditivo da expressão e do exercício de
cidadania valendo-se portanto da discriminação, da marginalização, da
segregação e exclusão do diferente, do "desviante", sob o parâmetro
da disciplina e da norma vigente, expressos na lógica da
"pseudo-verdade" das dinâmicas escolares, do acesso e assistência à
saúde, das políticas de urbanização.
Portanto fazer saúde mental, pensar
saúde mental, pressupõe um desmonte de estruturas determinantes de sofrimento,
exige ações múltiplas e conjugadas de vários setores governamentais, condição
básica ao enfrentamento da cultura manicomial, a cultura de segregação que gera
sofrimento, adoecimento e morte física-psíquica, sustentadas pelo pensamento
eugenista impregnado na história
e cultura de nosso povo.
Assim, uma
Política Municipal de intervenção na área de saúde mental deverá ser
implementada por uma ação intersecretarial que garanta o trabalho
multidisciplinar que a tarefa exige.
Esta ação se traduziu na atuação do Grupo de Trabalho
Intersecretarial "Cultura, Cidadania e Saúde Mental", constituído
pela Portaria 112, de 30.03.92, pela Senhora Prefeita, composto por
representante das secretarias, autarquias e empresas municipais (SMS, SME, SMC,
SEME, SSO, DEPAVE, SEHAB,
SEMAB, SMT, COHAB, CMTC, Guarda Metropolitana e Corpo Municipal de Voluntários) coordenado pela SMS, que realizou
reflexão coletiva sobre a questão da saúde
mental, buscando compatibilizar as especificidades de cada área em
uma intervenção mais integrada na
cidade.
Contribuindo dessa forma no
processo de re-significação do conceito de saúde mental, coerente com a abrangência que se tem
imprimido à noção de cidadania, cumprindo assim o poder público municipal sua tarefa educativa, em sua interlocução
com o munícipe e com o servidor.
Concretizando
na disponibilidade de espaços físicos, recursos humanos e materiais a
viabilização, de fato, desse trabalho junto à população.
•
|
Nos Centros de Convivência e
Cooperativas são desenvolvidas atividades coletivas de cunho cultural,
artístico, esportivo ou educacional com a finalidade de modificar as relações
sociais e também pessoais, no cotidiano de segmentos populacionais: doentes
mentais, portadores de deficiências, idosos, crianças e adolescentes de rua,
portadores de necessidades especiais, num convívio direto em agrupamentos
heterogêneos, juntamente com a população tida como "normal"; com
vistas a uma reinserção na sociedade.
As ações de convivência através da intensificação dos
contatos interpessoais de grupos diferenciados constituirão a tradução do
enfrentamento à discriminação, à marginalização e à segregação, expressas,
exemplarmente, em situações como: a criança abandonada, a mulher desrespeitada,
o jovem desempregado, o viciado, o idoso sem sonhos e sem vez, o indivíduo sem
prazer, sem possibilidades de projetos de vida, sem direito de cidadão.
Para realização
deste trabalho os Centros de Conveniência e Cooperativa foram idealizados e
instalados em espaços públicos (Parques, Praças, Centros Esportivos ou
Desportivos e Centros Comunitário de Cohab ou Espaços que se caracterizam como
públicos), corno um serviço que valorize a vocação destes espaços e amplie suas
potencialidades possibilitando a população em geral a real apropriação no uso
destes locais de forma organizada, crítica e criativa, assessorada pelo serviço
público na facilitação de um uso amplo, na interlocução entre comunidade e suas
formas de organização.
As atividades desenvolvidas
integrarão necessidades diversas sistematizando-as, em propostas diárias que
objetivem a construção conjunta de uma nova qualidade de vida.,
monitoradas responsavelmente por equipes técnicas e equipes de apoio.
Vale destacar a potencialização dos
espaços externos como áreas verdes, áreas livres, quadras, ... enquanto cenário
privilegiado de atividades e utilização dirigida. No entanto, deve ser
considerada a necessidade de utilização de espaços existentes ou a serem
construídos que viabilizem ações de convivência em salas de múltiplo uso,
ateliês, galpões e quiosques, sinal circunscrito de urna intencionalidade de
ação em oferta planejada, não espontaneísta, mas aberta ao uso livre e
organizado de todos os interessados.
É importante ressaltar a
característica das atividades enquanto expressão da necessidade da população
usuária, enquanto resgate de sua cultura, o que vem de encontro à valorização
da história e da identidade desta mesma população.
Num primeiro
momento favorecendo a conveniência através da riqueza que é a linguagem
artística (dança, artesanato, música, teatro, artes plásticas...), da linguagem
esportiva, cultural ... (jogos de mesa, jogos de quadra, relaxamento, massagem,
... rodas de conversa, folclore local, culinária, utilização da terra, prática
orientais milenares...) para, processualmente favorecer a organização destas
pessoas e o seu despontar em ações cooperativas de cunho produtivo e de reinserção
na economia popular.
Compatível com os princípios da não
discriminação e da convivência dos diferentes, as ações cooperativas devem
integrar, na produção e comercialização, indivíduos cuja sobrevivência não pode
estar submetida aos princípios da avaliação de mérito e da produtividade. Tanto
a produção junto a comercialização,
deverão se subordinar a capacidade e limitações de cada um nas suas diferenças,
sendo assim coerente com os princípios básicos do processo de convivência.
As atividades
de convivência e de cooperativa se constituem dessa forma, em irradiadoras nos espaços comunitários e nas
sociedade em geral, de uma nova concepção e prática de relações sociais realmente humanas, democráticas e
superadoras das desigualdades.
Pela sua vocação de
facilitador de relações, de promotor de convivência e estimulador de
organização coletiva e valorizador de manifestações artísticas e culturais da
população local, independente de sua condição social, de saúde,
econômica, raça, cor, idade, sexo, religião, ..., deverá contribuir na
construção de uma nova qualidade de vida.
PROPOSTAS:
Elaboração de um Projeto de Lei que
cria os Centros de Convivência e Cooperativas como serviços intersecretariais
idealizados para espaços públicos como Parques Municipais, Centros Esportivos,
Centros Comunitários de Cohab's, Centros Desportivos Municipais, Praças ou
outros espaços públicos e adequados aos princípios do projeto.
O Centro de Convivência e
Cooperativa deverá se caracterizar enquanto um serviço de espaço público, no qual está inserido. Portanto será
parte integrante das ações que caracterização o próprio espaço público
devendo o planejamento de suas atividades estar em consonância com as
necessidades e perfil da demanda da comunidade local, para a qual será
referência.
Quando da
existência de uma administração local, no dado espaço público, o serviço no centro de conveniência e
cooperativa estará submetido a esta administração, no que diz respeito a gerenciamento geral, -do local como um todo. Em centros
comunitários da Cohab/SP esta prerrogativa não será observada. Deverá ser
constituído em todos os locais, um conselho gestor no qual as secretarias
envolvidas na execução local, o coordenador do Cecco, a administração do
espaço, quando houver, e representantes de funcionários e usuários deliberarão
sobre planejamento e avaliação das atividades a serem oferecidas, de modo a
facilitar integração, ações conjuntas e garantia de acesso e participação de
toda a população interessada.
Por ser o Centro de Convivência e
Cooperativa um serviço que objetiva fundamentalmente a ousada tarefa de
reorientar valores contratuais a nível social e cultural dos considerados
"diferentes, desviantes, deficientes, incapazes, perigosos ou
insanos", com o restante da população considerados "adequados,
sadios, produtivos, normais".
Por ser o Centro de Convivência e
Cooperativa um serviço que utiliza como instrumento de trabalho da linguagem
artística, esportiva, cultural, artesanal ..., enquanto facilitadora de
convivência e produções, carecendo portanto de orientação dirigida e assessoria
técnica permanente.
Por ser o Centro de Convivência e
Cooperativa um serviço impulsionador de reflexão e questionamento de valores,
estimulador da organização e desenvolvimento de potencialidades, que busca a
mistura dos diferentes de forma a não favorecer "guetos".
Por ser o
Centro de Convivência e Cooperativa um serviço que necessita de aparato técnico
específico afim de viabilizar responsavelmente a execução e acompanhamento
diário do projeto como garantia de vigilância crítica à integração dos serviços
de saúde, ao desenvolvimento individual e coletivo, a convivência dos
diferentes e de retaguarda técnica a situações novas em grupos heterogêneos ou
não, que envolvem relações interpessoais e necessidade de suporte a momentos
mais suscetíveis de crises, surtos ou dificuldades específicas.
Faz-se indiscutivelmente necessária
a formação de uma equipe técnica multiprofissional capacitada a orientar,
dirigir, acompanhar, estimular, integrar, ou mesmo assessorar o desenvolvimento diário das ações em cada Cecco da
cidade, bem como uma equipe de apoio; implicando na criação de cargos, conforme
quadro de pessoal anexo (Anexo A)
Esta
equipe deverá estar subordinada a um técnico de nível universitário, que desempenhará
a função de coordenação das ações do Cecco, administrando a vida funcional da
equipe técnica e da equipe de apoio.
ANEXO A
QUADRO DE PESSOAL
CARGO
|
CATEGORIA
|
TOTAL CARGOS
|
||
PROVIMENTO
|
1992
|
1993(-92)
|
||
01
|
Coordenador
(*)
|
SMS
|
19
|
11
|
02
|
Psicólogo
|
SMS
|
38
|
22
|
02
|
Terapeuta Ocupacional
|
SMS
|
38
|
22
|
02
|
Assistente Social
|
SMS
|
38
|
22
|
01
|
Fonoaudiólogo
|
SMS
|
19
|
11
|
01
|
Educad. em Saúde Pública
|
SMS
|
-
|
30
|
01
|
Auxiliar de Enfermagem
|
SMS
|
19
|
11
|
01
|
Agente Cultural
|
SMC
|
19
|
11
|
03
|
A.A.
|
SMC
|
57
|
33
|
01
|
Prof. Ed.
Física(**)
|
SME
|
19
|
11
|
01
|
Prof. Ed.
Artística(**)
|
SME
|
19
|
11
|
02
|
Vigia
|
SSO-SEPAVE
|
38
|
22
|
03
|
Servente
|
e/ou SMS e ou SEME
|
57
|
33
|
02
|
Aux. Adm. da Saúde
|
SMS
|
38
|
22
|
TOTAL PARCIAL
|
418
|
242
|
||
TOTAL GERAL CARGOS
660
|
(*) Nível Universitário
(**) Estes
Profissionais desenvolverão atividades educacionais, ou seja, de cunho
educativo nos Cecco's, estando amparados pelos princípios vigentes no Estatuto
do Magistério publicado em DOM de 27/06/92.
OBS:
Deverão ser contratados oficineiros, como trabalho temporário. Pela característica
da demanda o tipo e a frequência de oficinas deve variar dando oportunidade a
diversificação -indicada pelos usuários, como forma de aglutinar pessoas numa
determinada tarefa. Caberá, portanto, a SMS repassar a verba a SMC para a
contratação de oficineiros, ou seja, artistas, artesãos, etc ..., com aptidão e
conhecimento de técnicas específicas de dança, artesanato, mímica, canto,
marcenaria, cerâmica, costura, conto de história, tear, grafitagem, mágica,
confecção de bonecos, malabarismo, tai-chi-chuan, culinária, etc, que através
da realização das oficinas de convivência, usem estas linguagens, não como
curso, mas sim como instrumentos que objetivem aglutinar e coletivizar as
pessoas e seus mundos internos.
Deverão ser em média 08 (oito)
oficineiros por Cecco, considerando a característica local de real necessidade
de cada Cecco, durante o período de no máximo 06 (seis) meses, e possível
renovação, sem contanto caracterizar vínculo empregatício com o Serviço
Público.
ATRIBUIÇÕES INTERSECRETARIAIS:
CABERÁ
AO CORPO MUNICIPAL DE VOLUNTÁRIOS manter corpo de
voluntários nos Cecco's. Para isto deverá fazer recrutamento e o cadastramento
constante de voluntários junto à sociedade bem como, em trabalho conjunto com
os técnicos dos Cecco's, treinar os inscritos, garantindo a avaliação e
reciclagem dos mesmos, capacitando-os a lidarem com a heterogeneidade dos
usuários. Cabendo ainda ao C.M.V.. o investimento em campanhas de
esclarecimento e informação sobre o papel dos Cecco's e dos voluntários neste
serviço.
CABERÁ
À GUARDA CIVIL METROPOLITANA a lotação de guardas
metropolitanos fixos nos equipamentos onde existam os serviços dos Cecco's, se
responsabilizando em parceria com a S.M.S. por treinamento e reciclagem
específicos de forma a atender as necessidades do serviço e da heterogeneidade
de seus usuários.
Equipe técnica, equipe de apoio,
agentes culturais, professores, voluntários, guarda metropolitano, etc.
comporão um mesmo corpo de trabalho, uma mesma equipe com atribuições
diferenciadas.
CABERÁ
À COMPANHIA DE HABITAÇÃO/SP o repasse dos Centros Comunitários
ou áreas para a implantação de Cecco's nos conjuntos habitacionais, cabendo
às-demais Secretarias a implantação, administração e manutenção dos Cecco's.
Caberá também o investimento em
campanhas de esclarecimento e informação junto aos moradores dos conjuntos
habitacionais sobre a proposta e funcionamento dos Cecco's em geral.
CABERÁ
À SECRETARIA MUNICIPAL DE ABASTECIMENTO auxiliar na implantação
e dar assistência técnica às hortas comunitárias nos Centros de Convivência e Cooperativas,
ou por eles acompanhadas; através de cursos de olericultura, fornecimento de
ferramentas, sementes e adubos orgânicos, sendo este último em conjunto com as
administrações regionais de SAR que fornecerão transporte próprio para os
locais interessados;
Compete ainda a SEMAB, estudar a
possibilidade e viabilidade de colocação da produção das hortas em equipamentos
municipais de abastecimento.
CABERÁ
À SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO contratação de 01 (um)
Professor de Educação Artística e 01 (um) Professor de Educação Física para
cada Cecco da cidade;
Promoção
e intercâmbio entre profissionais das Unidades Escolares e dos Cecco's;
Planejamento Escolar das
EMEIS/EMPG's/EDA's/ED. DE ADULTOS, que inclua a participação de alunos e
docentes nas atividades dos Cecco's;
Integração direta de ações entre CAP
(Centros Públicos de Apoio e Projetos) e os
Cecco's;
Discussão da questão
"Convivência dos Diferentes" como tema incluído no programa
curricular. Campanhas escolares de esclarecimento e discussões do serviço dos
Cecco's;
Compete ainda a SME o suprimento de
materiais gráficos em geral, brinquedos de estimulação e recreação e materiais
de sucata diversos, a serem utilizados nas oficinas e Cooperativas.
CABERÁ
À SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTES, TURISMO E LAZER
viabilizar a implantação de Cecco's em alguns Centros Educacionais e Esportivos
da cidade. Deverá priorizar e facilitar, entretanto, a implantação em CDM's,
desde que seja de interesse comum da unidade e da comissão intersecretarial (Decreto
0126.137 de 13 de junho de 1988. Dispõe sobre Cambes Desportivos Municipais, e
dá outras providências), amparados no artigo 11 deste Decreto que diz Os CDM's,
inclusive os já implantados, ficam obrigados a atender os requisitos da
prefeitura, previamente comunicados, quanto a utilização do imóvel, de forma a
permitir o máximo aproveitamento do local e de sua capacidade de atendimento;
Compete
ainda a SEME facilitar a utilização das dependências de todas as suas unidades
para a realização de eventos e atividades esportivas contidas num cronograma de
atividades compatibilizando com o calendário da SEME e da Unidade em questão. Como
também viabilizar a divulgação das atividades dos Cecco's em todos os seus
equipamentos;
Também como competência a SEME se
responsabilizará pelo material de consumo específico para a prática de esportes
(bolas, redes, jogos de salão, etc), devendo oferecer apoio técnico em eventos esportivos
e recreativos, organizar e ministrar cursos e treinamentos sobre ginástica respiratória,
recreação, estimulação, etc;
Deverá caber a SEME em parceria com
SAR a manutenção da instalação dos Cecco's como parte integrante do próprio
Centro Educacional e Esportivo e/ou Centro Desportivo Municipal, e a superação
dos bloqueios arquitetônicos, e iniciar prioritariamente nos equipamentos onde se
encontram instalados os serviços dos Cecco's;
Caberá a SEME a regulamentação de
normas, regimentos internos, nos Centro Educacional e Esportivo e Centro
Desportivo Municipal afim de permitir a execução de atividades tipo: festas,
eventos com a comercialização de produtos, sob a supervisão de todas as
secretarias envolvidas no local, afim de viabilizar as cooperativas nos
Cecco's.
CABERÁ A SECRETARIA
MUNICIPAL DE TRANSPORTES o investimento em uma Política de
transporte adaptado a portadores de necessidades especiais que facilite o
acesso da população alvo dos Cecco's aos espaços da cidade, em linhas próprias
conectadas com metrôs, nucleados por serviços essenciais a fim de facilitar
fundamentalmente a utilização dos Cecco's pelos portadores de deficiências em
geral, principalmente os deficientes físicos que utilizam cadeiras de rodas,
portadores de transtorno mental, idosos ( + 50 anos), gestantes, crianças e
adolescentes de rua sendo respeitado o caráter aberto destas linhas ao
passageiro comum;
Cabendo ainda a SMT a constante
vigilância e investimento em campanhas de esclarecimento de uso e objetivo das
linhas.
CABERÁ,
À COMPANHIA MUNICIPAL DE TRANSPORTES COLETIVOS
a operacionalização de transporte adaptado aos portadores de necessidades
especiais que deverão ter no serviço Cecco's um de seus principais nucleadores
de itinerário e funcionamento;
Cabendo também à CMTC em parceria
com a SMS, o investimento em treinamento e capacitação constante de seus
motoristas e cobradores, devendo contratar monitores para cada carro com o
papel de auxiliar embarque, desembarque, ciceronear o trajeto, funcionando como
guia de informações e esclarecimentos de questões da ordem operacional e dos
serviços ao qual este transporte acessa, principalmente esclarecendo e
informando sobre o funcionamento e objetivo dos Cecco's e dos Centros Públicos
de Apoio e Projetos (CAP-SME);
Caberá ainda à CMTC o investimento
em campanhas periódicas sobre a questão dos portadores de necessidades
especiais, o papel do transporte especial e o serviço dos Cecco's em seu jornal
do ônibus e/ou em outros instrumentos disponíveis para este fim, principalmente
em pontos de parada de ônibus.
CABERÁ À COMPANHIA DE ENGENHARIA E
TRÁFEGO viabilizar sinalização na cidade através de
plaqueteamento de modo a possibilitar o conhecimento e acesso aos Cecco's de todos
os interessados e promover junto as Escolinhas de Trânsito e ao Projeto
Vivencial de Trânsito e inclusão de
esclarecimentos sobre o serviço Cecco e o transporte especial que o atende;
Cabendo
ainda à CET um estudo diagnóstico, nas imediações de cada Cecco, a fim de
verificar adequação de semáforos, travessias, sinalizações gerais, etc. e
viabilização prioritária com relação à reformulação e adaptação.
CABERÁ
À SECRETARIA MUNICIPAL DE HABITAÇÃO a viabilização de
integração de suas equipes técnicas de Habi-Regionais às equipes técnicas
multiprofissionais dos Cecco's nos trabalhos junto à população de abrangência
destes serviços afim de facilitarem ações conjuntas a nível externo ou interno
aos Cecco's;
Cabendo ainda à SEHAB o
investimento em processos de esclarecimento e informação junto aos mutirões de
habitação sobre os serviços dos Cecco's e a importância do espaço de
convivência e de cooperativa para toda a população, principalmente aqueles
segmentos mais marginalizados por suas diferenças expressadas na idade, na
condição de saúde ou capacidade produtiva.
CABERÁ
À SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA a contratação e
provimento de 01 (um) agente cultural que terá como atribuição no trabalho
comunitário a pesquisa sobre cultura local e a organização de eventos
artísticos e atividades culturais em geral, planejadas conjuntamente; e 03 (três)
A.A. (de arte, música, teatro) para serem lotados em cada Cecco, compondo a
equipe técnica;
A SMC deverá possibilitar a
integração dos Cecco's com as casas de cultura favorecendo um mesmo fluxo e
infra-estrutura para efetivação regular de ciclos de vídeos, eventos artísticos
e atividades culturais em geral planejados em conjunto;
Caberá também a parceria com a SMS
no que se refere a contratação de oficineiros onde a SMS repassará recurso,
executará escolha e SMC efetuará contratação;
Caberá ainda a SMC viabilização de
participação e integração dos portadores de necessidades especiais em seus
equipamentos (casas de cultura, bibliotecas, teatros, etc), como também o
investimento em campanhas de esclarecimentos, informação e divulgação sobre os
serviços dos Cecco's. como também deverá caber aos setores de SMC ao qual
competem a pesquisa, acompanhamento e registro, estudos da importância dos
Cecco's no resgate da identidade histórico-cultural dos seus usuários em geral.
CABERÁ
À SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE a coordenação do
Centro de Convivência e Cooperativa;
Caberá ainda a SMS a contratação e
provimento, para cada um dos Cecco's, de equipe técnica composta por
Psicólogos, Terapeutas Ocupacionais, Assistentes Sociais, Fonoaudiólogos,
Educador em Saúde Pública, Auxiliar de Enfermagem e de um profissional nível
universitário para o papel de coordenação do serviço;
Deverá caber também a SMS o
investimento em reciclagem e supervisão destas equipes a nível programático e institucional-relacional,
como também a viabilização de integração de referência e contra-referência dos
equipamentos de saúde mental e de saúde geral com os Cecco's;
Caberá a SMS o suprimento de todo
material administrativo e de material de consumo, e de uso nas oficinas, exceto
os de competência de outras secretarias;
Compete também efetuar reserva
orçamentária a fim de repassar a SMC para contratação semestral de oficineiros
para todos os Cecco's;
61
Caberá ainda a SMS em parceria com
SMC e SME a viabilização de campanhas de esclarecimentos e a confecção de material
educativo e informativo sobre os Cecco's e a sua complementariedade de serviço
ao público associada a ações de outros serviços de saúde, educação. cultura.
etc.
CABERÁ
À SECRETARIA DE SERVIÇOS E OBRAS - DEPARTAMENTO DE PARQUES E ÁREAS VERDES a
viabilização de implantação dos serviços dos Cecco's nos parques municipais da
cidade, considerando interesse da comunidade e viabilização intersecretarial;
Deverá caber a SSO-Depave favorecer
a integração do serviço dos Cecco's aos serviços de educação ambiental e das
equipes técnicas correspondentes;
Compete também a SSO-Depave o apoio
técnico à execução de oficinas de jardinagem e a viabilização em seus espaços
de hortas e jardins que possam favorecer a organização de núcleos de
trabalho-cooperativas;
Compete também a SSO-Depave em
parceria com a SAR das instalações dos Cecco's como parte integrante do próprio
parque e a superação dos bloqueios arquitetônicos prioritariamente nos parques
onde se encontram instalados os serviços dos Cecco's;
Cabendo ainda a SSO-Depave em
parceria com SMS a construção ou ampliação de-espaços para Os Cecco's, quando
necessário, respeitando as características ambientais dos parques, por
indicação do 'Conselho Gestor (vide
anexo B).
ANEXO B
ORGANOGRAMA DE FUNCIONAMENTO DO CECCO
Vem esboçado na proposta de SMS,
como uma sessão técnica que define a lotação do corpo técnico e parte das
atribuições:
Composição do Conselho Gestor
Tripartite ou Paritário:
ü . administrador do local onde o Cecco está inserido
ü . coordenador do Cecco
ü . representante de outras secretarias existentes no
local
ü . representante dos funcionários em geral
ü . representante dos usuários
Esta
sessão técnica deverá estar ligada diretamente ao Distrito de Saúde correspondente
à localização do equipamento público, onde o Cecco estiver inserido.
Caberá
às outras Secretarias adequar às suas estruturas organizacionais a inserção do serviço Centro de Convivência e
Cooperativa, para efeito de alocação de pessoal e procedimentos administrativos.
Por entender o pioneirismo deste trabalho em âmbito
intersecretarial e a delicadeza da
proposta de integração dos diferentes para o exercício de cidadania,
justifica-se o cuidado no acompanhamento
continuado e intersecretarial, na vigilância por um bom resultado.
Portanto deverá ser criada uma
Comissão Intersecretarial de Centro de Convivência e Cooperativa formada por 01
(um) representante de cada secretaria, empresa ou autarquia envolvida.
representantes de movimentos sociais, de usuários, de trabalhadores dos Cecco's
de forma paritária com as seguintes
funções:
ü - acompanhar implantação de novos Cecco's;
ü -
supervisionar o processo diário do trabalho e o cumprimento das diretrizes;
ü -assessorar
nas dificuldades programáticas e relacionais das equipes;
ü - garantir a efetivação intersecretarial do serviço;
ü - acompanhar o cumprimento no disposto na Lei, coordenar e
participar de uma pesquisa e estudo da resolutividade e abrangência do serviço
dos Cecco's junto à população alvo e a repercussão e contribuição junto à população
geral, no que se refere aos objetivos básicos do serviço.
Esta comissão deverá realizar:
ü - reuniões periódicas de planejamento e avaliação;
ü -
visitas ordinárias aos serviços agrupados por zonas-pontos cardeais da cidade a
saber: (Norte/Sul/Leste/Oeste/Centro)
ü -
encontros bimensais da comissão com os coordenadores dos equipamentos e seus
distritos de saúde;
ü -
seminários promovidos intersecretarialmente, sobre centros de convivência e
cooperativas
ü - A Comissão Paritária Intersecretarial deverá estar sob a
coordenação da SMS
DIMENSIONAMENTO DO MÍNIMO ESPAÇO FÍSICO NECESSÁRIO AOS
CECCO'S
01 sala para Equipe e Administração;
01 cozinha comunitária;
01 salão grande para atividades múltiplas (dança, teatro,
música, exposições, etc);
02 salas de convivência (biblioteca, leitura, vídeo, sala
de estar com almofadas ...);
01 sala de múltiplo uso (oficinas, atendimento individual,
grupal, ...);
01 quartinho para almoxarifado;
02 banheiros (01 adaptado e com chuveiro);
01 galpão para cooperativa (marcenaria, cerâmica,
silkscreen ...);
02 quiosques grandes semiabertos para ateliê de artes,
artesanato, tear ...;
01 forno de barro;
01 mesa de alvenaria (oval e grande bancos de alvenaria em
torno desta ao ar livre)
Espaços
pequenos/médios e/ou grandes para o desenvolvimento de hortas e jardinagem
Anexo C
GRUPO DE TRABALHO
INTERSECRETARIAL
"CULTURA, CIDADANIA E SAÚDE MENTAL"
"CULTURA, CIDADANIA E SAÚDE MENTAL"
PROJETO: CENTRO DE CONVIVÊNCIA E COOPERATIVA
PROPOSTA DE POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAL
No transcorrer da
História, o tema da Saúde Mental foi, inicialmente, objeto de reflexão da área
da Filosofia, passando pouco a pouco a ser apropriado pela área médica. No
entanto foram se desenvolvendo estudos que indicaram a influência recíproca do
meio ambiente, arquitetura, alimentação, cultura, educação, saúde física, etc.
em relação à saúde mental. Assim, na visão holística do ser humano, a saúde
mental só pode ser investigada como uma questão interdisciplinar, na medida em que
exige a contribuição de todas as áreas do conhecimento para seu enfrentamento.
O conceito norteador desta nova postura é a visão anti-cartesiana que considera
corpo e alma como uma coisa só, constituindo ambos um organismo global.
Portanto, uma
política municipal de intervenção nessa área deve ser implementada por uma ação
intersecretarial que garanta o trabalho multidisciplinar que a tarefa exige. Os
Cecco's entre outros, constituem-se dessa forma, em um espaço alternativo de
convivência dos diferentes que com objetivo de combater a discriminação,
segregação e marginalização de grupos sociais com maior risco de institucionalização,
busca responder a este desafio.
Instalados em
Parques Públicos, Centros Esportivos e Desportivos Municipais, Praças, Centros
Comunitários "pretendem, através de atividades coletivas de cunho
cultural, artístico, esportivo, educacional etc., modificar qualitativamente
as relações sociais através da apropriação da coisa pública pela comunidade,
pelas pessoas consideradas normais ou não, enquanto sujeitos autônomos de um
processo singular num espaço de convivência". Para tanto, conta com uma
equipe multiprofissional composta por Psicólogo, Assistente Social, Terapeuta
Ocupacional, Fonoaudiólogo, Educador em Saúde Pública, Auxiliar de Enfermagem,
Professor de Educação Artística e Educação Física, (da Secretaria Municipal da
Educação), Oficineiros e Agente Cultural (da Secretaria Municipal da Cultura) e
monitores voluntários da própria comunidade.
Envolve, portanto
direta e indiretamente, por sua natureza intersecretarial, profissionais não
tradicionais à área de Saúde.
Justifica-se assim,
a criação de um programa especial de formação profissional que oriente a
atuação desses servidores em consonância com o novo significado que o conceito
e as práticas em saúde mental vêm assumindo e que se explicitam na política
traçada pela SMS, para a área. Essa tarefa educativa, por sua complexidade,
exige a ação conjunta dos R.H. de cada Secretaria envolvida, cabendo ao R.H. da
Secretaria da Saúde papel de destaque na execução do mesmo. Os primeiros
subsidiarão o trabalho de planejamento do programa, com o conhecimento que
detêm acerca da especificidade dos servidores envolvidos. Ao R.H. da Saúde
delega-se a responsabilidade pela implementação tendo em vista sua estrutura
descentralizada já se encontrar consolidada
nas administrações regionais de Saúde e ainda pela competência técnica de que
dispõe para formação nessa área.
Tendo em vista, Os
vários níveis gerenciais implicados nesse projeto, o programa deverá contemplar
ainda, um espaço especial para formação gerencial que, problematizando as
várias alternativas
de organização do trabalho, contribua para o equacionamento daquela que seja a
mais adequada para uma ação intersecretarial, redundando em relações de
trabalho que se caracterizem pela integração
entre o vários projetos específicos de cada secretaria e o Projeto Cecco. O
objetivo é que, do vigia
ao técnico especializado, todos se percebam como sujeitos do processo de
trabalho, responsáveis pelo sucesso ou fracasso do mesmo.
Aos R.H. das secretarias, caberá
ainda o engajamento em campanhas sociais de sensibilização e informação,
especialmente no que se refere aos funcionários municipais. Na qualidade de
servidores e munícipes, constituem-se em público privilegiado tanto no acesso à
informação como enquanto usuário
dos recursos municipais. Exemplo bem sucedido de servidores-usuários, têm sido as experiências que vêm
sendo realizados pela SMS, através das equipes de Saúde Mental, com
funcionários municipais alcoolistas. São parceiros, por excelência, dos R.H.
nesse trabalho, a CIPA, através de suas comissões internas de prevenção de
acidentes.
Sugestão de
temas para o Programa de formação profissional:
-
Saúde x Doença - Qual o limite?
-
A cultura manicomial
- O direito à cidadania e à diferença
-
Visão holística do ser humano
- O significado de um trabalho intersecretarial
- O trabalho em co-gestão
- Relações de trabalho nas equipes multi-profissionais
Regina
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho de digitar todo o documento.
Vamos divulgar a todos os trabalhadores de Ceccos!!!
Um grande abraço
Silvana Reis Vicentin
Oi Silvana, agora já esta editado também em PDF para quem quiser ter ele para imprimir no link https://docs.google.com/open?id=0B_iWKTlL-YSqQXZrTkE4YnFBa3M
ExcluirAbraços